domingo, dezembro 22, 2024
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Protetoras unem forças contra abandono de animais

por: Redação

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Grupo de protetoras decidiu se juntar para combater maus tratos de animais de rua em Barueri. Castração foi a primeira conquista alcançada

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É frequente animais abandonados em situação de risco e maus tratos apresentarem fratura, problemas com pelos e tumores/Fotos: Arquivos pessoais e rede social

Não é incomum, andando pelas ruas, ver animais em calçadas, praças e espalhados pela cidade. Entretanto, para um grupo de baruerienses, apesar de incomum, esse fato não os torna insensíveis ao abandono de cães e gatos em Barueri.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que, só no Brasil, existam mais de 30 milhões de animais abandonados, sendo 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Em cidades de grande porte, para cada cinco habitantes há um cachorro. Destes, 10% estão abandonados.

Criado recentemente, há pouco mais de um mês, ainda restrito a um grupo no whatsapp, o Proteção Animal Barueri reúne mais de 20 pessoas que, até então, agiam de forma individual no amparo da população de animais de rua em diversos bairros.

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Simone: protetora e uma das idealizadoras do grupo

Segundo Simone da Matta, protetora independente, a decisão de unir forças veio diante do grande número de animais abandonados que estão se reproduzindo pelas ruas. “Recebíamos denúncias de muitos abandonos de filhotes. Não estávamos mais dando conta de doar esses animais”, revela.

A gota d’água foi um dia em que foi chamada, junto com a experiente protetora Sueli da Silva, para resgatar nove filhotes na Aldeia de Barueri, quatro na Chácara Marcos e mais seis no Jardim Belval. “Nesse dia eu fique muito revoltada com a situação no geral. Precisávamos castrar esses animais. Não estávamos, as protetoras, dando conta de tantos animais de rua em situação de maus tratos, atropelados, doentes, morrendo abandonados”.

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Sueli, que além de resgatar, presta cuidados a cachorros nas ruas

Sueli sabe bem o que é essa realidade. Protetora independente há muitos anos, ela trabalha com resgates, castração e vacinação. “Já cheguei a resgatar, junto com a Mara (outra protetora), 15 filhotes num único dia”. Agente de organização escolar na rede pública, Sueli já tirou das ruas do Jardim Belval mais de 50 cachorros, cuidando de castração, vacinação e doação de todos que consegue. Ambas contam com a ajuda dos veterinários Bueno, Cassio, Pedro e Newton, sem os quais não seria possível atender os animais.

Para Simone, mesmo essa ação devendo ser de responsabilidade da prefeitura, as pessoas podem ajudar. “A falta de medicação que viabilizava castrações fez com que, mesmo depois de um mutirão, Barueri tivesse um crescimento descontrolado desses animais”, avalia. “Querendo ou não, acabamos prestando um serviço ao município. Sabemos das limitações diante do grande número de animais de rua em Barueri. E no fim das contas, acabamos auxiliando”, afirma.

O grupo de proteção

Formado por pessoas que amam e se dedicam a cuidar de animais, o Proteção Animal de Barueri é independente, não possui ajuda substancial de qualquer entidade e tem procurado, na troca de recursos entre os participantes, mudar a visão e tratamento dados aos animais de rua. Com a intenção de unir forças num trabalho de castração, que resultará na diminuição de animais de rua, o grupo se vê atuando principalmente em resgates.

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Rosineide: anos de dedicação aos animais de rua

Rosineide de Oliveira, 46 anos, moradora do Parque Imperial, se dedica ao cuidado de pets abandonados há dez anos. “Tudo começou com uma cachorrinha que entrou no meu quintal e eu adotei”. Já resgatou, castrou e doou mais de trinta animais de rua. No grupo há menos de um mês, ela acredita que a união das protetoras pode dar uma outra perspectiva para ela. “Com o grupo, trocamos informações, dicas de veterinários parceiros e simpatizantes. Isso pode ajudar com as dificuldades de cuidar deles”, diz esperançosa. Rosineide tem 13 cães resgatados das ruas e conta sempre com a ajuda da filha caçula.

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Malú acabou ficando com animais que tiveram sérios problemas de saúde

Também do Parque Imperial, Malu de Melo, 28 anos, é protetora independente desde criança e conta com a ajuda da mãe Lucilene para continuar a se dedicar à sua paixão. “Trabalho como tosadora, e em pouco tempo no grupo, já fizemos resgates de cães e gatos”, conta. Sobre como fazer esse trabalho de socorro aos animais abandonados, Malu é categórica ao afirmar que não tem ajuda. “Fazemos quase o impossível para ajudar por conta própria. Agora que o grupo foi criado, medicamentos são doados entre a gente, nos ajudamos na divulgação de adoção conforme a necessidade”, avalia.

A necessidade de buscar ajuda

Ainda que cada um das protetoras não consiga contabilizar com exatidão o número de animais abandonados que já ajudaram, o que é comum a todas é que, mesmo com ajuda de alguns veterinários e casas de ração, o custeio do que fazem sai do próprio bolso.

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Rosa: amor retribuído pelos resgatados

Rosa Maria Freire, do Jardim Califórnia, é vendedora autônoma de cosméticos e roupas íntimas, e sabe bem de como a crueldade e descaso de algumas pessoas pode pesar para quem não consegue virar as costas para um animal abandonado. “As pessoas jogam no meu portão. Na empresa onde minha filha trabalha abandonaram três filhotes e ela os trouxe pra casa. A gente cuida com nossos próprios recursos, com auxílio da família”, conta.

Sílvia Cristina Ierich, 47 anos, moradora da Aldeia da Serra, trabalha como orçamentista, faz projetos de designer e nas horas vagas é artesã – de onde consegue recursos para os resgastes e cuidados que faz. “Tenho um parceiro veterinário, que me ajuda há cinco anos e cobra bem mais barato que os veterinários por aí”, revela. Também sem qualquer ajuda de órgãos públicos, ela já fez alguns resgates desesperadores. “Um dia atendemos 17 poodles, filhotes, resgatamos de um acumulador. Eu, a Simone e Dani levamos todos para minha casa, vermifugamos e doamos”, lembra.

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Silvia: a experiência mostrou que sozinha tudo é muito mais difícil

Agora com o grupo, todas acreditam que, apesar das dificuldades individuais, poderão contar com ajuda de outras pessoas. “Aprendi ao longo dos anos que, sozinha é bem mais difícil, mesmo quando a ajuda é psicóloga, dando apoio moral é sempre bem vinda”, desabafa Silvia Cristina.

Cada um fazendo o que pode

Mesmo não sendo o controle populacional de responsabilidade das pessoas, a participação individual pode ajudar na situação de animais de rua. Exemplo disso é Maria das Graças Moreira, moradora do Jardim Belval. “Não me considero uma protetora, mas sim uma pessoa que gosta de animais e socorro alguns sempre que posso”, conta.

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Maria da Graça sempre leva consigo uma mochila com ração, água e medicamentos

Com seis animais em casa, todos resgatados das ruas em situação precária, ela faz questão de frisar que não compra animais, Maria das Graças insere na própria rotina ações que ajudam em muito os bichos abandonados na rua onde mora. “Coloco ração, água, recolho os pratinhos. Todo dia é isso”. Sempre que pode, ela socorre as amigas Mara e Sueli nos resgates. Além disso, nunca sai de casa sem um acessório especial. “Carrego uma mochila onde tem água, ração e medicação para quando encontro um animal de rua com fome, sede ou machucado”, diz.

Além dessas ações, quem pode ajudar com lar temporário, dando abrigo até que sejam encontrados adotantes adequados, faz a diferença nessas ações. “Sempre temos resgatados para serem doados, às vezes temos a sorte de doar rápido, outras vezes não”, se entristece Rosa Maria, a protetora do Jardim Califórnia.

As primeiras conquistas

Depois de se reunir, o grupo deu um grande passo no combate a situação dos animais de rua de Barueri: conseguir a castração deles. “Agora conseguimos algumas vagas de castração para as protetoras. São duas por dia para os animais de rua. Esse recurso é fundamental, tanto para o controle populacional, como para que os recursos que temos sejam dedicados a cuidar adequadamente dos que foram abandonados”, afirma Simone da Matta, uma das idealizadoras do Proteção Animal Barueri.

projecao_crescimento_populacao_caninaRealmente, a castração é a principal ação para diminuir o número de animais abandonados, que terminam invariavelmente feridos, doentes, em situações de maus tratos e espalhados pelos bairros. Para se ter uma ideia, cada casal de cachorro que deixa de ser castrado tem a capacidade gerar 80 mil animais em apenas dez anos. Já com gatos, esse número é de 70 mil filhotes.

Diante desse quadro, não basta que ações isoladas, sejam de grupos de protetores ou de ONGs sejam feitas. Cada proprietário tem que se conscientizar de que pode colaborar para diminuir esse número de pets abandonados.

Normalmente os animais, depois de resgatados, são doados, e sempre após estarem castrados e vacinados. “Colocamos para adoção, que é importante para coroar o que fazemos. Sem esses lares, não conseguimos socorrer e tirar das ruas tantos animais.”, avalia Simone.

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Animais antes (fotos pequenas), e depois do resgate (fotos maiores)

Além das castrações, o grupo deve ter um dia de orientações de como proceder em resgates, denúncias, leis sobre abandonos e maus tratos ministrado pela Guarda Ambiental de Barueri. Um bazar, para arrecadar fundos que ajudem no trabalho que vem sendo feito, deve ser anunciado em breve. “Fazemos rifas e estamos procurando doações para conseguirmos dinheiro para custear os resgates, castrações e socorro dos animais. Toda ajuda é extremamente necessária e bem vinda”, explica a protetora.

Presenciou? Denuncie. Abandono é crime

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Dois animais resgatados das ruas de Barueri: o abandono é implacável

O ato de abandonar animais, ou submete-los a maus tratos é crime previsto pela Lei 9605/98. Qualquer ato de maus-tratos envolvendo um animal deve ser denunciado na delegacia de polícia, e em casos de flagrante de maus-tratos e/ou que a vida de animais estejam em risco, a polícia deve ser acionada.

Quem presencia o ato é quem deve denunciar. Além de ser um ato de cidadania, essa iniciativa ajuda a combater o abandono. “Muitas vezes a pessoa pode não ser exatamente uma protetora, que atue em resgates, mas pode ser uma cuidadora, ajudar com lar temporário até que sejam encontrados adotantes”, explica Simone da Matta.

pet-abandonadoA bandeira que une essas moradoras de Barueri é uma só, e resumida por Rosa Maria, a moradora do Jardim Califórnia que frequentemente tem animais jogados no portão de casa. “Salvar uma vida não tem preço. Essa é a vida dos protetores, é a vida do amor”.

 

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