quinta-feira, dezembro 26, 2024
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E livrai-nos de todo mal . . .

por: Redação

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Marcos Vicente fala sobre um dos flagelos da vida urbana, a fila

No começo dos anos 80 tocou guitarra em bandas como Flor de Lótus e Rosa Luxemburgo. Precursor do skate - se orgulha de dizer que já andava de skate desde a época que a cidade tinha poucas ruas pavimentadas. Autor do fanzine Decadance e editor do Jornal Notícias por 15 anos, também se aventurou na produção de alguns curtas
No começo dos anos 80 tocou guitarra em bandas como Flor de Lótus e Rosa Luxemburgo. Precursor do skate – se orgulha de dizer que já andava de skate desde a época que a cidade tinha poucas ruas pavimentadas. Autor do fanzine Decadance e editor do Jornal Notícias por 15 anos, também se aventurou na produção de alguns curtas

O trânsito e as filas são os principais flagelos do cotidiano urbano. Certo que a rotina de escândalos em Brasília também é um inferno, mas aí não é um “privilégio” dos habitantes de áreas urbanas. Já as filas e o trânsito são transtornos que temos que enfrentar praticamente todo dia. O trânsito é motivo de queixas em todo lugar. E as filas. . . .Aaahh. As filas. Como fazer? Tem como evitar? Fila na padaria, na bilheteria da estação ferroviária, no caixa eletrônico, no ponto de ônibus. Fila pra passar no médico, pra comprar  ingresso, pra almoçar no self service, pra pagar a conta no banco, e até dentro do mercado ainda tem fila no açougue e na padaria, além do caixa. Uma rotina de filas. Mas tem uma que eu acho peculiar: a fila da drogaria. Esse tipo de fila parece conter mais história por metro linear que as outras. Semana passada minha filha estava gripada e eu fui à drogaria São Paulo. A recomendação era comprar aqueles comprimidos: um verde e outro amarelo. Só isso. Logo ao chegar, percebo aquela pequena fila para o atendimento no balcão. Sem problemas: a equipe da drogaria São Paulo é muito bem treinada e o atendimento é muito eficiente. Vou confiante pra fila e uma senhora da ponta é a primeira a dirigir-se ao balcão. Chama minha atenção uma senhora com uns 70 anos tão maquiada para as 10 horas da manhã. E aparenta muita empolgação. Parece muito feliz ao retirar um saco plástico com um pacote de receitas da bolsa. Naquele instante percebo que aquele atendimento não seria dos mais simples. Ela conversa animadamente com a atendente. Descreve alguns sintomas, apontando a cabeça e o pescoço, aparentemente pra explicar a reação do medicamento. E se estende, sem aparentar nenhuma pressa. Parece realmente feliz de fazer compras de medicamentos. Nesse ponto eu já estou visivelmente irritado, e percebo a inquietação do restante da fila. Alguém da gerência percebe o tamanho da encrenca que seria aquela cliente e chama um rapaz pra ajudar no atendimento. A velha senhora nem se dá conta. E descreve novamente outro medicamento, elencando sintomas e apontando partes do corpo, dessa vez o quadril e o joelho. Do meu posto na fila, observo  com raiva, já. Uma outra receita parece gerar um impasse no atendimento, mas ela abre a bolsa, de onde saca uma embalagem de um medicamento. E o próximo passo é comparar a composição do medicamento a ser adquirido com a embalagem desbotada que ela trazia na bolsa. A letra miúda da embalagem sugere novo suplício. Ela não consegue ler. Acha um óculos naquela bolsa, e retomada a luta pra enxergar o texto da embalagem.   O rapaz da minha frente na fila já está suspirando impaciente. Ela, no balcão, sorri satisfeita. Muito feliz com a compra de medicamentos. Parece estar no balcão de uma loja de grife. E eu já  bastante irritado. Ela abre a próxima receita e, de onde estou, só entendo que o medicamento é pra “ela”. Talvez uma irmã, filha, sobrinha ou neta. E suponho que seja uma pessoa com a saúde debilitada, porque a velha doida agora relaciona os sintomas “dela”. O rapaz da minha frente bufa e sai marchando, irritado. Eu já encaro a velha com visível irritação. Na dúvida sobre comprar ou não um outro medicamento, ela saca do celular e liga pra “ela”. Fala longamente ao telefone e desliga. Mas o impasse aparentemente  persiste. Eu já fazia fantasias sobre enforcar a velha quando ela, aparentemente, acha a solução. Ela exibe uma expressão de felicidade – daquelas que se faz quando se adquire uma passagem pra Londres, e abre novamente a bolsa. Saca do celular e faz uma foto do medicamento, enviando em seguida pra tal parente pelo whatsApp. Pronto!, exclama feliz da vida. De onde eu estou na fila posso ver o sorriso vitorioso de quem descobriu a roda. Penso em desistir quando o balconista chama o próximo. Rapidamente eu descrevo os tais comprimidos amarelo e verde. O balconista sorri e me informa que o Benegrip está na prateleira ao lado, e que, pra esse tipo de medicamento, eu não precisaria ter esperado na fila. Pego os tais comprimidos e caminho rapidamente pro caixa. De lá, vejo a velha sacando sorridente outra receita da bolsa. Me sentindo aliviado, corro pra casa levar os tais comprimidos pra minha filha. Não tenho ido mais à Drogaria São Paulo. O atendimento lá é excelente, mas tenho um pouco de medo de encontrar a tal velha maluca por lá com a bolsa cheia de receitas.

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1 Comentário

  1. È proibido não ter fila.
    Se tem muita gente na fila dos médicos e vários atendendo, quando a fila vai diminuindo, os médicos também começam a sumir, assim também é nos bancos .

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