Em 1973, o prefeito de Barueri, Guilherme Guglielmo, o Perereca, se empenhou para aprovar uma lei que permitia a instalação de um condomínio empresarial em Barueri. Era o embrião do bairro de Alphaville que geraria renda, emprego e tiraria Barueri da condição de cidade pobre e dormitório. No pacote, uma isenção de impostos às empresas que aqui se instalassem.
Dez anos depois, em 1983, não havia mais isenção para as empresas e os cofres públicos começaram a ficar cheios. Nesse mesmo ano, assumia a prefeitura Rubens Furlan, jovem e afilhado político de Arnaldo Rodrigues Bittencourt. O novo prefeito não perdeu tempo, asfaltou a cidade, construiu escolas e postos de saúde, entre outras melhorias.
Furlan foi se firmando como grande administrador, o político que mudou a cidade, que fez o que ninguém havia feito antes. Com isso, sua força política cresceu vertiginosamente. Elegeu-se deputado estadual em 1990, prefeito em 1992, deputado federal em 1998 e mais uma vez prefeito em 2004, sendo reeleito em 2008.
Em 2016, Furlan chegou a seu quinto mandato como prefeito, com mais de 80% dos votos válidos, prometendo colocar a cidade no seu lugar em 60 dias. A menina dos olhos do prefeito era a área de saúde. Entretanto, a cidade não é mais rica como havia sido. Maltratada por más administrações e a crise que assola o país, Barueri carrega muitos problemas. Dentre eles, a saúde.
O problema que mais salta aos olhos é a situação do hospital municipal, onde existe um rombo de quase 100 milhões de reais. Sob intervenção desde março do ano passado, o HMB viu suas dívidas aumentarem. A solução encontrada foi trocar a administração do hospital. Sai Hygia, entra SPDM.
A primeira diz que não pode arcar com as demissões dos funcionários. A segunda dá de ombros e diz que esse ônus não estava no pacote. Furlan pede aos servidores que se demitam e concorram a uma vaga na seleção que a nova contratada está fazendo. Sem garantias! Pede-se a conta, não sabe se será contratado, não tem FGTS, multa, férias, etc. Nem tampouco seguro desemprego.
Nesse balaio de gato, onde os interesses empresariais se digladiam e o poder público parece não ter solução, a conta toda está sendo empurrada para os servidores do hospital que, sem alternativa, entraram em greve.
Furlan, numa cidade com problemas orçamentários, tem a chance de mostrar que realmente é um grande administrador. Seja com um pacto entre a prefeitura e as organizações sociais, seja usando toda sua força política para mobilizar o Ministério Público e a Justiça, ou ainda, admitindo que a prefeitura responde solidariamente aos problemas e arrumando verbas para indenizar os trabalhadores.
Resolver essa questão é uma grande prova de fogo para Furlan. Largar o problema para os funcionários do hospital não é fazer governo popular, como ele declarou que faria e não resolve o problema da saúde. Não seria, ainda, uma obra de um grande administrador.