Nana Pequini escancara as diferenças da educação sexual de meninas e meninos
Ele desde cedo mostrava o pau orgulhoso para todos. Os homens riam. O pai particularmente incentivava-o. Na roda de bebedeira que regularmente se reuniam ele gritava para o “moleque”:
– Viadinho!
E ele mostrava o piu piu:
– Chupa o meu dulo!
E riam. Como riam!
Ela aprendeu que não podia mostrar a pombinha e nem colocar a mão. Era feio! Sujo! Tinha caca!
Ele cresceu e aprendeu a manejar o seu pau. Aprendeu a bater punheta. Aprendeu técnicas de se enganar para fingir que era outra pessoa: a mão zumbi, pintar as unhas, enrolar pano na mão… E as técnicas eram compartilhadas com os amigos de colégio. Nas rodas no recreio eles falavam como faziam, se já saia algo, o vídeo que viu no celular do pai. Era macho isso. Era fundamental falar o que havia aprendido. Queriam parecer mais adultos, mais machos e era proporcional ao quanto de detalhes colocavam no discurso.
Ela sabia que não era muito legal ficar falando de putaria. Nem passava pela cabeça dela ficar olhando pra o seu órgão sexual. O prazer lhe apresentava de surpresa, um ato falho rápido, um cometa. O tremer do ônibus, o chuveirinho que passou ligeiro e feliz no clitóris, o pulsar da vagina quando deitou uma noite. Muito cuidado ao falar com as amigas. Elas poderiam entender tudo errado e achar que ela era puta. Boas meninas não querem dar.
Ele via filmes pornôs. Ela via filmes românticos. Ambos tinham sonhos eróticos.
Ele namorou, trepou, trepou, trepou, namorou. Ela também.
Casaram –se. Ele fazia exatamente o que aprendeu com os filmes pornôs e o que os amigos comentavam que era legal. Ela esperava exatamente o que havia visto nos filmes românticos e o que aprendeu com os comerciais de margarina.