Barueriense Matheus Ribeiro criou uma ONG que prepara estudantes carentes para fazer a redação do Enem
Ele nasceu em Barueri, estudou no ITB e hoje ajuda estudantes carentes de todo o país a se aperfeiçoar em redação para entrar na faculdade. Com apenas 19 anos, Matheus Ribeiro preside uma ONG criada por ele próprio que mantém um time de mais de 30 universitários que tiraram ao menos nota 900 ao fazer a redação do Enem. Todos trabalham voluntariamente, sem nenhum tipo de remuneração, no apoio a candidatos a uma vaga no ensino superior.
A ONG Galera da Redação nasceu como consequência da necessidade pessoal de Matheus, ao chegar o momento de se preparar para o Enem. “O terceiro ano do ensino médio era muito complicado”, lembra ele. Matheus viveu até os quatro anos no Jardim Tupanci e teve que se mudar para Pirapora quando os pais se separaram. Mas manteve seus vínculos com a terra natal e aqui ele fez sua vida escolar, o fundamental na Emef Maria Elisa Chaluppe, na Boa Vista, e depois o técnico no ITB Munir José, no Jardim Tupã.
“Eu saía de casa em Pirapora às quatro horas da madrugada para ir ao ITB e chegava de volta às três da tarde.” Nessa época, ele começou a desenvolver seu método. “Eu não tinha com quem estudar, aprendi a desenvolver a escrita corrigindo redações na internet”, explica. “Só tinha um professor no técnico que me auxiliava, que de vez em quando olhava meus textos.”
Sem alternativa, Matheus passou a estudar em casa por vídeos na internet. Até que um dia, estudantes com quem ele interagia nas atividades de estudo o colocaram num grupo de discussão de redação. “As pessoas postavam os textos no grupo e pediam para as outras fazerem críticas e eu comecei a comentar”, explica. O nome do grupo era Galera da Redação. “Ali, eu dava dicas para os outros candidatos e ao mesmo tempo que eu criticava eu aprendia. Aprendia errando.” Hoje, esse é o princípio da ONG, praticar, errar e aprender. “Os corretores vão fazendo as correções e orientando, dando dicas.”
Nota 1000 no Enem
O método deu certo. Matheus fez 960 em redação no Enem, nota que ajudou a garantir sete aprovações em instituições de ensino superior. Escolheu Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais, onde está cursando o terceiro ano. Mesmo assim, fez questão de fazer a prova do Enem no ano passado para tentar os 1000 pontos da nota máxima. Conseguiu.
Mas o grupo de estudo começou a dar problema, as pessoas entravam e saíam. Matheus percebeu que só ele fazia as correções regularmente. Como não estava dando conta, começou a chamar outros amigos para ajudar, até que veio a ideia: “Vou fazer o meu próprio grupo Galera da Redação”. E fez e foi estruturando o trabalho aos poucos, montando o time de monitores. Passou de grupo a blog e de blog a um site com domínio. “Tudo pago do nosso bolso. Dividimos as despesas, cada um dá o que pode”, explica.
Para este ano, a ONG oferece 225 vagas para quem quiser participar dos programas de treinamento. As inscrições estão abertas e vão até 2/4. Para participar, é preciso ser aluno ou ex-aluno de escola pública, ou bolsista integral em escola particular e ter no máximo um salário mínimo de renda familiar por pessoa (R$ 937). “O número de vagas foi definido pela nossa capacidade de atender”, explica Matheus.
O método de estudo utiliza as redes sociais e cada monitor tem liberdade de escolher as ferramentas para as aulas. São usados recursos como Whatsapp skype, lives, vídeos, tudo acompanhado pelo Departamento Pedagógico da ONG. As atividades são individuais, mas o instrutor pode marcar ações conjuntas e participa quem pode naquele momento. Também há videoaulas no Youtube para o aluno estudar e depois fazer exercícios em conjunto.
A ONG se expande
Este ano, além de redação, a ONG vai passar a oferecer aulas das outras áreas que compõem o Enem. Os monitores também serão voluntários. “Esperamos no futuro fechar parcerias para remunerar as pessoas, não em valores de mercado, mas ao menos como uma ajuda”, explica. Os primeiros apoios já apareceram: a própria UFU, o Guia do Estudante, e o Descomplica, plataforma de ensino que está dando bolsas para alunos da Galera da Redação.
Para Matheus, a ONG é uma ação voluntária. Ele ganha a vida dando aulas particulares pela internet. Atualmente, tem sete alunos de inglês, redação e atualidades em atividades de reforço do ensino médio. Também atua como pesquisador. Por meio de uma bolsa que obteve na Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), realiza trabalhos na área de direitos humanos LGBTs no cenário internacional. Também atua no Núcleo de Estudos de Direitos Humanos da UFU.
Seus planos são de seguir no setor de relações internacionais. “Eu me encontrei na área e não quero desperdiçar o curso de administração que fiz no ITB”, afirma. “Quero investir em logística internacional, representação de empresas, internacionalização de empresas, política externa, negociação internacional”, planeja. “Uberlândia é grande e importante e quer se internacionalizar, e eu participo de um grupo que quer colocar a cidade no cenário internacional, vamos trabalhar nisso.”
A importância do ITB
Para Matheus, o ITB foi fundamental em suas conquistas e as lembranças são muito fortes. E lembra que quem conseguisse uma média total maior ou igual a 8 era considerado destaque, o nome ia para o mural. “Eu fui aluno destaque em todos os trimestres”, lembra.
“Eu não teria conseguido montar o grupo se não fosse o curso de administração que fiz lá, que me deu base pra eu poder construir a organização”, garante. “Acho que se não fosse o ITB eu nem teria entrado na universidade. Ele é muito bom, principalmente no ensino de humanas.” O jovem conta que nem estudou para as provas de humanas do Enem e só se dedicava às exatas, onde tinha mais dificuldade, em especial com matemática e física, que eram um sofrimento. “Eu quase gabaritei o caderno de humanas do Enem, fiz 43 questões em cada”, revela. “Fui muito bem em redação, linguagem e humanas, e isso levou minha nota lá pra cima.”
Para ele, a redação foi um destino. “Sempre gostei de ler, cheguei a escrever um livro de poemas, mas num momento de fúria acabei queimando”, conta. Ele mantém o gosto pela leitura, que aumentou com as atividades como pesquisador. “Já fiz palestras em São Paulo e vou começar a realizar apresentações de trabalho como pesquisador em direitos humanos em outras universidades no país”, diz.
As inscrições para o programa deste ano da Galera da Redação devem ser feitas até dia 2 de abril no site http://galeradaredacao.com/site/.