Numa analogia com o futebol, Valter Klenk lembra que, na política nacional, trocar peças sem mexer no sistema não leva a lugar nenhum
“Quanto ao poder, o povo não se engana. Errado vota até por muitos anos. Um dia, o saco cheio vence a grana. ” Poema Majoritário – Glauco Mattoso
Na semana passada, a seleção brasileira foi desfalcada de seu zagueiro David Luiz por conta de cartões amarelos. Para seu lugar, o técnico Dunga convocou o zagueiro Felipe, titular do Corinthians.
A zaga da seleção já conta com o ex-corinthiano Gil, que fez dupla com Felipe no ano passado e que, juntos, formaram a defesa menos vazada do campeonato brasileiro. Aliás, a defesa do Corinthians tem se mostrado, nos últimos anos, muito sólida e, invariavelmente, a melhor dos campeonatos que disputa.
Passaram por ela William, Chicão, Castan, Paulo André, Marquinhos, Cleber, entre outros, além dos já citados. Cada vez que um deles deixou o time, a torcida ficou com a sensação de que o caldo iria entornar com a ausência do jogador que estava saindo naquele momento.
O fato é que as previsões pessimistas não se cumpriram e a zaga continuou firme e competente. E é nesse ponto que me apego.
O Corinthians não trabalha com uma zaga mas, sim, com um sistema defensivo. Uma vez que a bola está com o adversário o time todo começar a marcar. Os atacantes são os primeiros a dar combate, passando pelos meias e laterais. Assim, quando chega até a zaga, a bola já não vem redonda, como se diz na linguagem futebolística, facilitando o trabalho dos defensores.
Não quero tirar os méritos dos trabalhos realizados pelos zagueiros, entretanto, fica claro que ser beque no Corinthians é mais fácil. É um sistema!
E estou dizendo isso só para fazer uma analogia com o quadro político que vemos hoje.
Há movimentações em todo o país cobrando punições contra os corruptos, sejam de apoiadores do governo, sejam de opositores. O problema é exatamente esse. Não são peças, individualmente, que sustentam a corrupção no país. Há um sistema viciado que corrompe, ou pelo menos tenta, a cada um que se aventure na política.
Essa corrupção passa diretamente pelo financiamento privado de campanha, objeto de ampla discussão, que permite que interesses de grandes grupos patrocinem candidatos de vários partidos, em busca da defesa de seus interesses. Esses patrocínios nem sempre chegam por vias legais e, para ser aceitos, acabam virando caixa dois.
Aliado a isso, temos um sistema judiciário ineficiente, que age com viés político quando deveria ser legalista.
Ou seja, não adianta tirar Dilma (que não é ré em nenhum processo), ou Cunha, ou fulano, ou sicrano, etc, se não mudarmos o sistema. Precisamos de reformas política, judiciária, previdenciária, fiscal e dos meios de comunicação. Qualquer um que afirme que tirando A, B ou C de seu cargo irá acabar com a corrupção está tentando levar vantagem de um sentimento que paira na sociedade.
No âmbito local, criou-se uma falsa divisão entre dois grupos políticos que se digladiam e dividem o eleitor barueriense. Não há diferença de propostas. Tanto Gil, como Furlan, como Zicardi fazem parte do mesmo grupo criado por Bittencourt. A única coisa que os separa são interesses próprios. Ou daria pra dizer que Gil e Furlan não fizeram governos similares, excetuando, algumas nuances? Digo que não. Mesmo porque, já corre, à boca pequena, que estaria acontecendo uma reaproximação dos dois.
Colocar uma peça ou outra desse grupo, mesmo que rachado, será um pouco mais do mesmo. A mesma política que a cidade vê há mais de 30 anos.
Se não pensarmos em sistema, não adianta mudar peças, coisa que nem os comentaristas esportivos se deram conta, pois cobraram que Felipe deveria ser o parceiro de Gil na zaga da seleção porque estão acostumados a jogar juntos. É verdade. Mas, também é verdade que estão acostumados a jogar dentro de um sistema. Coisa que o time de Dunga está longe de ter.
[sam_ad id=”12″ codes=”true”]