terça-feira, outubro 8, 2024
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Sobre o ódio

por: Redação

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André do Valle pergunta se a origem do ódio não estará nos dogmas que nos tolhem e nos aproximam mais do lado animal que da inteligência

André do Valle, cidadão barueriense, é ator e roteirista. Como teatro-educador, consegue comunicar-se ao mesmo tempo com crianças, adolescentes e adultos – o que lhe dá a capacidade de tratar com leveza e bom humor os assuntos mais difíceis, complexos e polêmicos.
André do Valle, cidadão barueriense, é ator e roteirista. Como teatro-educador, consegue comunicar-se ao mesmo tempo com crianças, adolescentes e adultos – o que lhe dá a capacidade de tratar com leveza e bom humor os assuntos mais difíceis, complexos e polêmicos.

Ao contrário do que diz o senso comum, moral não tem nada a ver com um conjunto de regras a ser seguido. Um exemplo rápido: Gyges, personagem duma antiga fábula grega, pastor de reputação ilibada, descobriu que se tornava invisível quando usava um determinado anel. Então esse cara cometeu as piores atrocidades.

Você já pensou no que faria se tivesse um desses? Iria espiar gente pelada, comeria todos os doces de um restaurante caro, daria um pulinho na Casa da Moeda…? Mas e o que você não faria de jeito nenhum? É justamente isso que determina a sua moral. Moral é aquilo que você faz ou deixa de fazer, não por medo nem vergonha nem por convenções sociais e, sim, porque VOCÊ, com a sua inteligência, com os valores que são os SEUS, delibera.

De toda a Natureza, nós humanos somos a única espécie capaz de escolher. Um gato só pode viver uma vida de gato; um passarinho só é livre pra voar na poesia, porque na realidade ele voa por ser programado pra isso e ponto. O que acontece quando um animal se sente acuado?

Na educação que você e eu recebemos, fomos condicionados a: obedecer aos pais, comemorar feriados, sonhar com casamento, filhos, um bom emprego etc etc etc…
Um sem número de dogmas permeia a nossa cultura e quase sempre nos penetra bem lá no fundo do… do… Espírito(!), tornando-nos meros joguetes de suas imposições. Assim, tolhidos do direito de questionar coisas que pra maioria são óbvias, enfraquecemos a nossa humanidade interior, a ponto de nos aproximarmos muito dos animais domésticos ou até selvagens.

Dizia Milton Santos que ainda não podemos falar que há no planeta uma Humanidade ou espécie humana. Segundo o geógrafo baiano, a maioria de nós é apenas semi-humana. Isso porque somente algumas poucas mulheres e uns pouquíssimos homens já se libertaram de instintos e dogmas que nos impedem a evolução intelectual e psicológica.

Quando você educa uma criança dizendo a ela que “isso é assim porque é assim”, você a enfraquece no que ela tem de mais precioso.
Outro dia, numa festa de aniversário infantil, a molecada tava louca pra comer os brigadeiros e o bolo. Até que um bando de adultos, que se julgavam os senhores da razão, reprimiu a galera proclamando que essas coisas se come no final. Poxa, a festa era de quem?! Qual o objetivo de uma festa, a alegria de quem participa dela ou o cumprimento estúpido de rituais igualmente toscos?!

Pois bem, se o simples questionamento de um dogma causa tanto desequilíbrio em quem o segue e se sabemos que os dogmas nos aproximam mais do lado animal do que da inteligência, será que o ódio não nasce daí? Afinal de contas, como fica um animal quando se sente acuado?

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