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O dia que valeu por 30 anos

por: Redação

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O vilarejo acordou diferente naquela terça-feira. O dia sonhado por 30 anos havia chegado. Em poucas horas, o município de Barueri iria nascer

por Décio Trujilo

A terça-feira 21 de setembro de 1948 abria a primavera do jeito que costumava ser naquela época: temperatura amena, sol radiante, brisa leve. No vilarejo de Barueri, as pessoas acordaram mais cedo. Parecia que os rádios foram ligados em maior volume. Logo de manhã, junto com o cheiro de café, o ambiente era preenchido pelas vozes do ídolo de então, Francisco Alves, cantando Esses Moços, e Isaurinha Garcia, entoando No Rancho Fundo.

Bem cedinho, já se via o movimento de homens em seus melhores paletós, sapatos engraxados, chapéus aprumados subindo a ladeira da rua Campos Sales, de braço dado com suas mulheres em vestidos de festa. Eles iam na direção do Grupo Escolar de Barueri, depois batizado de Raposo Tavares. Era o dia mais importante da história do povoado que nasceu do aldeamento dos jesuítas, às margens do rio Tietê, quase 400 anos antes, e em poucas horas ia se tornar o município de Barueri, tornando realidade um sonho alimentado durante três décadas por aquela gente.

A história da emancipação barueriense começa em 1918, quando a vila instalada ao lado da Estrada de Ferro Sorocabana tornou-se distrito de paz de Santana de Parnaíba, o que lhe deu o direito de ter cartório e cemitério. Era a senha que os moradores esperavam para reivindicar a separação da matriz. Desde então, inúmeras tentativas foram feitas para cumprir esse desejo, mas todas morreram na pouca disposição da Assembleia Legislativa.

Nesse período, Barueri cresceu e tornou-se maior que Parnaíba. Passou a eleger cada vez mais vereadores e chegou a ter a maioria da câmara parnaibana. Em 1947, a vila lançou dois candidatos à prefeitura de Parnaíba, Eduardo Bandeira de Melo e Francisco Moran. Foi um erro. Os eleitores baruerienses se dividiram e, apesar de juntos os dois terem obtido a maioria dos votos, o eleito foi o candidato da sede, Bernardo Marques, que teve apoio dos distritos de Pirapora do Bom Jesus e Cajamar.

União e vitória

Foi a gota d’água. A derrota demonstrou que era hora de união, e o movimento de separação juntou adversários políticos em torno da causa. Além disso, os emancipadores ganharam um reforço importante. No início dos anos 1940, um deputado estadual, Diógenes Ribeiro de Lima, havia comprado uma pequena fazenda onde hoje fica o Jardim Reginalice e fez dela seu refúgio de fins de semana. Ele passou a frequentar o vilarejo, fez amizades e sensibilizou-se com o sonho dos baruerienses. Depois da derrota de 1947, empenhou-se em convencer seus pares da Assembleia a autorizar a realização do plebiscito em que os moradores votariam se desejavam ou não separar-se de Parnaíba. E conseguiu.

Naquele dia 21 de setembro de 1948, a população urbana se concentrava na sede e na Aldeia, com pequenos grupamentos de casas na Cruz Preta, Vila Nova, hoje parte do Jardim Belval, e Vila Boa Vista. Também compunham o distrito de Barueri os vilarejos de Carapicuíba, Vila Sulamericana e Aldeia de Carapicuíba. A população total era de pouco mais de 9 mil pessoas, das quais 1.768 estavam aptas a votar. Compareceram 619 e o resultado foi de 618 votos a favor e um contra.

Durante muitos anos, esse voto contrário foi motivo de investigação, fofoca e folclore. Volta e meia alguém era apontado, a sério, em tom de acusação, ou como provocação em rodas de amigos, como o vilão do plebiscito. Mas ninguém nunca admitiu ter votado contra, o autor jamais confessou e, para muitos, o gesto não passou de uma brincadeira.

Vencido o plebiscito, as coisas caminharam depressa. A Assembleia Legislativa confirmou o resultado, votou e aprovou o decreto que criava o município de Barueri e em 24 de dezembro o governador Adhemar de Barros sancionou a lei. A data de instalação foi 1º de janeiro de 1949 e no dia 3 nascia Hamilton Leitão, o primeiro cidadão barueriense. No dia 13 de março realizou-se a eleição. Nestor de Camargo foi eleito o primeiro prefeito do novo município com 465 votos, 22 a mais que seu principal adversário, Adonay de Almeida Sylos, que teve 443. Em 26 de março, um sábado, como em 2016, Nestor e 13 vereadores tomaram posse.

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