quinta-feira, novembro 21, 2024
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Jesus amarrado num poste de luz

por: Redação

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Jay Rocker lembra a vida de Jesus e como foi condenado pelo povo que ele veio defender, e traça um paralelo com os julgamentos sumários contemporâneos

Formado em Comunicação Social, Publicidade e Propaganda, ex-baterista da banda Vozes Incômodas, autor dos livros "Poesia das Ruas" e "Anarquismo: Uma questão de ordem, respeito e solidariedade", escrivinhador no site Interferência Urbana, ataca de poeteiro e contador de causos no site "Recanto das Letras", reside em algum lugar além do arco-íris, não está na moda, não bebe, não fuma, não cheira, não dança, não joga e não namora em pé.
Formado em Comunicação Social, Publicidade e Propaganda, ex-baterista da banda Vozes Incômodas, autor dos livros “Poesia das Ruas” e “Anarquismo: Uma questão de ordem, respeito e solidariedade”, escrivinhador no site Interferência Urbana, ataca de poeteiro e contador de causos no site “Recanto das Letras”, reside em algum lugar além do arco-íris, não está na moda, não bebe, não fuma, não cheira, não dança, não joga e não namora em pé.

 

Jesus, em hebraico Yeshuá, filho de Maria e José, saiu de casa com cerca de trinta anos, para ser batizado no rio Jordão por João Batista.

Ao sair das águas do rio, os céus se abriram e ele viu descer sobre ele o Espírito Santo em forma de pomba e ouviu uma voz dizendo: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mat. 3:17).

Após o batismo, o Espírito Santo conduziu Jesus ao Deserto, entregando-o para que Satanás o tentasse. Fato ocorrido três vezes, onde Jesus não sucumbiu aos encantos mesmo após um Jejum de quarenta dias e quarenta noites, sempre citando que “A lei do seu Deus está em seu coração; os seus passos não resvalarão” (Sal. 37:31).

Assim começa a vida de pregação e ensinamentos do Jesus que conhecemos, quando ele volta para a Galileia e ao retornar para sua cidade, Nazaré, foi recebido por cidadãos cheios de ira, graças ao seu comentário na sinagoga: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim; porque o Senhor me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos, a apregoar o ano aceitável do Senhor” (Is. 61:1). Assim ele diz que a profecia se fez.

Já dizia meu avô: “Santo de casa não faz milagre” e assim, os nazarenos o expulsaram da cidade e tentaram jogá-lo do alto da montanha da qual Nazaré ficava. Numa manobra de fuga, Jesus consegue fugir para Cafarnaum, onde começou a morar. (Mat 9:1).

Mesmo Jesus tendo feito o bem em terras judias, muitos chamavam-no de comilão, lunático, bêbado, depravado, enganador de pessoas, príncipe dos demónios, um pecador que violava o sábado, um blasfemador que se dizia Filho de Deus, se fazendo igual a ele.

Antes mesmo de seu calvário, Jesus já martirizava em vida.

“Não julgueis que vim trazer paz a Terra; não vim trazer-lhe paz, mas espada; porque vim separar o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e os inimigos do homem serão os seus mesmos domésticos” (Mat 10: 34-36), só que ele se apresentou como um humilde servo que aparentemente não tinha nada de diferente dos outros homens.

Jesus sofreu e chorou, foi traído (muito antes do famoso beijo de Judas), caluniado, rejeitado, sendo um “homem de dores, e experimentado nos trabalhos” (Is. 53:3). Sacerdotes e Fariseus (os chefes religiosos da época) decretaram que ele deveria morrer.

Jesus tinha um preço? Sim. Trinta moedas de prata, prometidas a Judas Iscariotes, caso ele entregasse seu mestre aos guardas.

No Horto das Oliveiras, como um bandido qualquer, Jesus foi capturado e abandonado por todos os seus discípulos. Mais uma vez Jesus estava só.

Os membros do Sinédrio o condenou à morte, pelo crime de blasfêmia. “É réu de morte” (Mat. 26:66), disseram. Cuspiram em seu rosto, lhe deram socos, o espancaram enquanto diziam: “Profetiza-nos, ó Cristo, quem foi que te bateu? ” (Mat. 26:68).

Depois desse vilipêndio, foi levado para Herodes, que o mandou para o governador Pôncio Pilatos, para que ele autorizasse a sua crucificação. Pilatos não via nada que fosse digno de morte, mas sobre a pressão dos Fariseus, Sacerdotes, Escribas e forças políticas locais, resolveu que o apresentaria para a troca da Páscoa, onde um criminoso era libertado. Escolheu Barrabás, o pior ladrão da época, acreditando que o povo escolheria Jesus para a liberdade.

A multidão pediu para crucificar Jesus. Não importava que Barrabás tivesse cometido diversos delitos, a mídia da época em conjunto com os “santos religiosos” já tinha decretado que Jesus era culpado. Para o povo, sempre massa de manobra, estava correto. Eles odiavam Jesus. Não importa se Barrabás iria acabar com o povo depois, desde que aquele Jesus fosse castigado. Sendo assim, Pilatos então mandou que o açoitassem e depois o crucificassem.

Seu martírio não acaba aí. Soldados o levaram para o pretório e o vestiram de púrpura, lhe puseram na cabeça uma coroa de espinhos e prostrando-se diante dele o zombavam dizendo: Salve, rei dos Judeus! E lhe batiam e cuspiam.

Foi levado para Gólgota, onde o pregaram na cruz, rasgaram suas roupas, tiraram o poder de ficar com sua túnica na sorte, agonizou enquanto foi escarnecido por aqueles que passavam lá, incluindo sacerdotes, escribas e anciãos os quais lhe diziam: “Salvou os outros, e a si mesmo não pode salvar-se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e creremos nele. Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama; porque disse: Sou Filho de Deus” (Mat. 27:42-43).

Antes de morrer, Jesus disse: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? ” (Mat. 27:46), e naquele momento um dos que ali estavam correu, tomou uma esponja, ensopou-a em vinagre e fel, deram-lhe de beber”.

Assim, Jesus morreu na cruz, mas bem antes disso, já estava sendo morto e representava aqueles menos favorecidos, o povo que era mal visto, o povo que “não tinha honra para fazer parte do reino dos céus. O interessante é que ele foi crucificado pelo mesmo povo que ele defendeu.

Um homem rico, pediu o corpo de Jesus a Pilatos, que lhe deu permissão de retirar o corpo da cruz. Este homem era José de Arimatéia, que tomou o corpo de Jesus, o envolveu num sudário de linho e o colocou em seu sepulcro. Desta forma Jesus desceu a mansão dos mortos.

Muitas pessoas saíram de casa, foram expulsas de seus lares, de suas cidades, foram motivo de piada e vergonha para seus pais, sofreram chacotas, foram chamados de lunáticos, bêbados, depravados, enganadores de pessoas, endemoniados, pecadores, blasfemadores, entre outras coisas. Homossexuais, pobres, negros, seres humanos já estavam sendo crucificados bem antes de serem expostos em carriolas ensanguentadas.

Poderia repetir a história de Jesus, trocando seu nome por “Mulher”, “Cigano”, “Negro” ou “Homossexual”, mas prefiro que as pessoas possam ver os fatos e quiçá escreverem o final de uma outra forma.

Penso comigo se Jesus existiu e se realmente retornaria. Que povo é esse que estaria disposto a receber o filho do pai? Penso que tal qual em “Projeto Judas”, Jesus seria preso num poste de luz. Jesus seria amarrado, linchado e morreria agonizando em uma praça pública, sob a mira de diversos celulares de última geração, parcelados em 18 vezes e acompanhado da ira de milhões de pessoas de bem, todas com o mesmo pensamento, a turba que não quer justiça, mas sim poder extravasar seu desejo criminal de matar.

Talvez, as mesmas pessoas que carregam bíblias embaixo dos braços, crucifixos em seus pescoços, que vão aos templos todos os dias seriam os algozes do mesmo Jesus que padeceria mais uma vez.

E no fim, enquanto ele dá seus últimos suspiros lembrará: “Eles não entendem, não entenderam e nunca entenderão os meus mandamentos”, ainda dando tempo de enxergar a última pedra que selaria sua vida.

A humanidade me dá preguiça.

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