Influência baiana na cultura nacional é o enredo da escola que nasceu de uma bateria show criada no Jardim Silveira

A música e a religiosidade da Bahia formam o enredo da escola de samba Cadência Paulista para o carnaval deste ano. “Vamos explorar toda a riqueza e a influência da cultura baiana na fé e na alegria do povo brasileiro”, explica Júlio César Ferreira, o Julião, presidente da escola.

O enredo foi idealizado há dois anos, mas uma fatalidade impediu que ele fosse para a avenida no carnaval passado. Em 2015, Júlio e Aldir, diretor-geral da escola, falaram sobre criar um tema a respeito da Bahia. E começaram a dar forma à ideia. Durante dias, à medida que iam pesquisando, os dois trocavam ideias por Whatsapp, até que ficou pronto.
Mas poucos dias depois, Aldir morreria em meio ao surto de dengue que atingiu a cidade. “Aí, não tivemos estrutura emocional para levar o tema adiante”, conta o presidente. A proposta foi então guardada, a escola escolheu um enredo sobre crianças para 2016, mas retomou a ideia agora. “Inclusive vamos lembrar do Aldir no nosso desfile.”
O processo de criação da Cadência levou quase uma década. Quando o carnaval foi interrompido em 2000, alguns integrantes da escola Raízes, do Jardim Silveira, passaram a frequentar as quadras paulistanas. Em 2005, com a experiência que foram adquirindo, criaram em Barueri uma bateria com ala show que passou a tocar nos jogos do Grêmio Barueri e se apresentar em eventos, como o carnaval de Santana de Parnaíba. Em 2007, surgiu o nome, Bateria Show Cadência Paulista, porque já tocava em todas as regiões do Estado.

“Aí, em 2014, quando houve a decisão de retomar o carnaval, o Pedrinho Vila Porto nos estimulou a transformar o grupo numa escola de samba”, lembra Júlio. Ele e Tiago Nascimento, vice-presidente e cantor do Cadência e da Acadêmicos do Tucuruvi, chegaram a conversar para a volta da Raízes, mas não sentiram apoio dos antigos dirigentes e optaram por começar um novo caminho.
Assim, a Cadência foi fundada em 2 de dezembro de 2014, no Dia Nacional do Samba, e o primeiro carnaval foi feito em 22 dias. “Mandamos fazer 300 abadás com dinheiro do bolso”, lembra o presidente.

Para representar os ideais da agremiação que nascia foram escolhidas três palavras que estão em toda parte dentro da escola: samba, amizade e alegria. “O samba é a razão da nossa existência, a amizade representa o respeito que deve haver entre todos e a alegria é o ritmo contagiante que é a marca do carnaval”, explica o presidente.
A escola não fechou parceria com nenhuma outra agremiação e este ano, vai se apresentar com 250 componentes, metade deles, com fantasia, casal de mestre-sala e porta-bandeira, alas coreografada, de baianas e de crianças, jovem guarda e dois tripés. A bateria Ritmo Ousado terá 50 ritmistas.
Cadência Paulista – Desfila domingo, 26/2, às 20 horas
Ensaios: domingos (roda de samba a partir de 15 horas e bateria a partir das 17 horas)
Local: Rua Maísa, 150, no Projeto Samba da Comunidade
Presidente: Júlio César Ferreira
Diretor de bateria: Felipe Passarinho
Intérprete: Tiago Nascimento (Ala musical: André, Nildo do Cavaco, Thiago Martinez, Buba e Jeh Mania)
Porta-bandeira: Gaby
Mestre-sala: Alex
Enredo: Bahia de todos os santos, cantos e raça, meu axé
Autores do samba-enredo: Thiago Martinez e Nininho
Ó Bahia, Ô Ô Ô
Terra abençoada pelos deuses
O português aqui chegou, o negro povoou
Primeira capital do meu Brasil
Guerreira na ginga da capoeira
Terreiro onde o samba floresceu
Veio costumes, crenças lá de além-mar
Trazidas pelos invasores
Solo sagrado pela força de Oxalá
Nessa avenida vem mostrar os seus valores
(2x)
O grito de Oxóssi na mata ecoou
Sou Cadência, sou São Salvador
Ora yê yê Mamãe Oxum
Kaô Cabecilê Xangô
Em cada esquina exala melodia
Caldeirão musical, berço da poesia
Ê Ê Ê Baiana, traz o tempero que hoje eu quero festejar
Mas negro é forte, valente, guerreiro
Fez dessa terra patrimônio nacional
Bahia tem encantos e magias
Seu folclore é divinal
Sob a proteção dos orixás
De azul, vermelho e branco
Eu faço meu carnaval
(2x)
Bate forte em meu coração
Ao som do tambor, carrego a fé
Salve a Bahia, de todos os santos,
Dos cantos, raças e axé