Ingrid lança seu olhar sobre as produções musicais da periferia e, evocando nomes do rap nacional, trata da sobrevivência do gênero em meio às efemeridades artísticas
É fácil observar que, na indústria do entretenimento, a popularidade de um elemento é algo que aparece e some com o tempo. Isso delimita moda; a demanda e oferta dessa esfera do mercado passa frequentemente por este fenômeno.
Desde o começo dos anos 2000, vemos o aumento da popularidade de alguns símbolos da periferia presente em várias esferas da sociedade, rompendo as barreiras das classes sociais. Afinal, quem não conhece aquele jovem classe média que ouve rap e anda de skate, aquela moça bem nascida que gosta de um funk, às vezes, para brincar? Também sabemos, e vemos se repetir há anos, que muitos expoentes da música popular da periferia surgem por um tempo, fazem sucesso, tocam em todas as rádios, e somem como se nunca houvessem existido ou então viram sinônimos de música de mal gosto e ultrapassada. Um bom exemplo são as irmãs Potira e Potiguara, vulgo Pepê e Neném. Ou a banda atualmente gospel, Fat Family, que sempre foi um expoente afrodescendente muito característico.
Também, com a popularização da internet, e agora da internet móvel, onde em qualquer lugar é possível acessar e ouvir a música que quiser, a rotatividade de quem está no topo dos artistas mais populares está cada vez mais veloz.
Sendo assim, sabemos que os populares cantores de hoje (Anitta, Ludmilla, Mc Biel, etc.) serão os ultrapassados de amanhã. Principalmente se levarmos em conta que a grande maioria deles, não por acaso, já sacou que sua música não é mais ouvida apenas na periferia, nas comunidades carentes e pelas classes menos favorecidas. E também a grande maioria deles já faz seus lançamentos voltados para determinadas classes da sociedade, como é o caso de Anitta, que ao cobrar um valor acima da média nos seus shows, já seleciona quem ela quer que seja seu público.
Não obstante, temos o saldo positivo dessa elitização da música popular da periferia, além do fato eminente de que a grande maioria desses serão esquecidos e se tornaram subcelebridades com a velocidade de um download em 4G: o fortalecimento da real música das ruas, aquela que é feita pelo povo das periferias para o povo das periferias.
Em 2015, Fióti, rapper e irmão do também rapper Emicida, foi escolhido pela UNICEF para receber o prêmio Cultura e Direitos Humanos, representando a Laboratório Fantasma, a gravadora independente que vem inspirando jovens de todo Brasil a construírem seus próprios estúdios e não desistirem do rap.
Outros produtores como Konrad “KondZilla”, Mc Bin Laden e Detona Funk, também são exemplos de empreendedorismo dentro das comunidades. Todos começaram com poucas ferramentas, no improviso e contando com ajuda dos moradores de suas próprias regiões. Hoje são responsáveis por fenômenos como Mc Guimê, Mc Brinquedo e Mc João, por exemplo, sons que não só explodem nos bailes funk em SP e no RJ, como também respeitam e representam seu povo, têm tudo de mais original das favelas. Mesmo sabendo que alguns destes artistas nascidos no âmago das comunidades carentes também estão suscetíveis a sumir, como aconteceu com Mc Luan, destaque do ano de 2009, outros podem se tornar símbolos de uma luta como é o caso de Sabotage, respeitado rapper paulista assassinado em 2003.
A conclusão a que podemos chegar é que em paralelo à rotatividade e descarte de artistas no topo da música popular jovem, que só empodera e enche os bolsos da indústria do entretenimento, temos uma valorização e representatividade sendo fortalecida dentro das periferias; e isso, gravadora, canal de tevê, rádio e empresário nenhum consegue manipular.