Para Claudio Paes, é hora de mudar a visão de que a administração pública pode ser feita de qualquer forma: “Precisamos de profissionais competentes nos lugares certos”
Sustentabilidade para Cláudio Paes e seu partido, a Rede, é mais do que proteger árvores. É adotar políticas públicas que se complementem em benefício da população. Ele se apresenta como a renovação na política barueriense, num modelo em que as decisões devem partir dos anseios da população, mas validadas por especialistas. “Não adianta ficar na experimentação, no faz e, se der errado, faz de novo. Nossa ideia é fazer uma coisa que seja bem feita”, explica. Cláudio tem 51 anos e chegou a Barueri aos três anos de idade. É professor concursado do ITB desde 1998 e já disputou uma eleição a vereador, pelo PSDB, mas não foi eleito.
O que o leva ser candidato a prefeito?
Eu moro em Barueri há 48 anos, acompanho todas as dificuldades que a população vive, vivi muitas das dificuldades e injustiças que temos hoje no nosso município. Acho que tem muita coisa errada na nossa cidade que precisa de uma atenção melhor.
O brasileiro pede renovação na política e a Rede diz que oferece a renovação. Que renovação é essa?
A Rede é um partido novo, criado no ano passado, e quando a gente fala de renovação, fala de oportunidades e de trabalhar num sentido horizontal. O que seria isso? Não existe nenhuma fórmula pronta para resolver os problemas. Todo mundo enxerga, cada um tem uma solução diferente, então é preciso buscar o consenso, a participação da população, trazer especialistas competentes para dar apoio a essas soluções da população. Vamos atacar o problema pontual com técnicos para nos orientar e buscar o melhor caminho. Quando a gente fala em renovar, a gente pensa em melhorar, ter pessoas governando que não tenham vícios. Mas a renovação não é só o sangue novo de jovens, que tem ideias e soluções para todos os problemas, mas trabalhar no sentido de uma política renovada, uma política que não será perpetuada. Por exemplo, a Rede não permite reeleição para o Executivo e é apenas uma reeleição para o Legislativo, porque a gente quer promover alternância, colocar gente nova o todo tempo. É como você chegar numa casa hoje, que já foi ocupada, a casa estava bem com aquelas pessoas que moravam lá. Mas você entra naquela casa e vai melhorar alguma coisa nela, e depois que você sair e entrar uma outra família, ela também vai encontrar coisas para melhorar. É dessa renovação que a gente fala, de sempre estar trocando para a gente buscar sempre o melhor.
A Rede tem a sustentabilidade no nome do partido. O que é esta sustentabilidade que vai além do ambientalismo?
É sustentabilidade em todos os níveis, na educação, na saúde, na questão estética, na questão ética. Quando falamos de sustentabilidade, as pessoas imaginam que vamos cuidar da árvore só, do meio ambiente, mas não, tudo é uma questão de sustentabilidade. Se promovemos o esporte, estamos diminuindo a preocupação que temos com saúde. Quando a gente fala em trabalhar em cooperativas de reciclagem, diminui o lixo gerado pela população. Uma das propostas que temos para Barueri é trabalhar para cooperativas, usar o lixo, que na realidade são resíduos sólidos, e através das cooperativas transformar em algo comercial novamente. É o ciclo virtuoso em que aquilo que é inservível para uns se torna forma de renda para outras famílias. Na questão ética, promover a transparência do governo. Hoje ao procurar informações do governo, é tudo muito complicado. É preciso promover a transparência para o cidadão entender o que está acontecendo. Qual é a renda municipal? Quais são as prioridades? Onde foi gasto? É sustentabilidade de uma maneira geral. Mobilidade urbana, por exemplo, tem várias soluções, Barueri tem problemas, gargalos que podem ser resolvidos a médio prazo. Com especialistas sendo consultados, a gente consegue promover isso. É diminuir um pouco a emissão de gases, promover os transportes alternativos. Em Barueri a gente está analisando a questão de ciclovias. Em determinadas regiões não é possível, temos áreas montanhosas, mas em outras, dá. Então é viabilizar a mobilidade de forma sustentável, através de outros meios. Enfim, sustentabilidade é promover o bem estar para as pessoas em todos os níveis.
Que medidas de curto prazo você pretende tomar?
Expandir uma coisa que a prefeitura já faz, na parte de oftalmologia. Ela contratou empresas particulares para essa área. Vamos fazer isso com todas as especialidades, para eliminar as filas de consultas, exames médicos, isso, de imediato. Também rever alguns contratos com empresas, principalmente do Hospital Municipal, e buscar de imediato uma conversa com o Estado e o governo federal para tentar trazer hospitais de média e alta complexidade. Carapicuíba e Itapevi têm hospitais de referência, como o Sanatorinhos, Osasco tem o Hospital Regional e Barueri tem que abrir um pouco mais, Barueri é muito fechada em relação a esse tipo de situação. Criar incentivos para que clínicas e hospitais privados venham para a cidade também. E vamos voltar a incentivar os esportistas, apoiar o esporte amador de uma forma mais abrangente do que é feito hoje. Estudar o contrato com a empresa de ônibus e abrir esse mercado. E aí, a gente entra em outro problema que é a mobilidade.
Qual é seu modelo de mobilidade urbana?
Primeiro temos que rever as linhas de ônibus. O passageiro que sai do Jardim Paulista para o Alphaville, por exemplo, demora mais tempo do que alguém que sai da Vila Dirce em Carapicuíba para chegar no mesmo ponto. O ônibus faz um zigue-zague danado e não chega nos horários em que as pessoas precisam mais. Está entre as primeiras coisas que a gente vai estudar de modo eficiente, com especialistas. Não adianta ficar na experimentação, faz, se der errado, faz de novo. A ideia nossa é fazer uma coisa que seja bem feita. Temos que rever algumas coisas no sistema viário, Barueri só tem X para todo lado.
Barueri continua crescendo, vieram inúmeros grandes condomínios, sem estrutura, a cidade está estrangulada. Que saídas você imagina?
Temos conversado com a sociedade, dentro do partido, com especialistas. Do dia para a noite surge a obra de um prédio, como no Belval por exemplo. A ideia é estancar um pouco a especulação imobiliária, do jeito que ela está não dá, as empresas devem dar a contrapartida, elas têm um ganho financeiro muito grande. Temos que chamar os empresários para conversar com relação a isso. O custo fica para o município e a população vai sofrer até que se construa escola, creche. Hoje já falta creche, essas pessoas vão morar lá e onde vamos colocar as crianças?
Qual é o maior problema de Barueri hoje?
No meu ponto de vista, é gestão. Acho que é fundamental a transparência de onde chega e onde é aplicado o dinheiro. Muitos falam em desvios, e eu não tenho como comprovar nada, mas, se existem, temos que sanar essas questões, rever contratos. O que ficou para trás não sou eu quem vai resolver, será a Justiça. Eu penso em acertar a casa daqui para a frente e tentar resolver em benefício da população de maneira igual. É preciso analisar a situação da prefeitura, quais são as dívidas, o que dá para se fazer. No primeiro ano a gente fica amarrado em função das determinações do orçamento, e os recursos da área da saúde diminuíram um pouco. Também tenho sido questionado por questões como falta de saneamento básico, de energia elétrica, ou seja, as concessionárias vêm para Barueri, a gente paga, mas não recebe. Acho que falta um pouco mais de pulso, usar da lei para que elas façam aquilo para que foram contratadas. E muitas pessoas precisam do auxílio social, que eu acho que tem que ser mantido, mas acho também tem que ter uma maneira de essas pessoas produzirem para ter o próprio sustento. Aí, é a ideia das cooperativas, mas é cooperativa profissional, não é colocar um grupo de pessoas e elas fazerem o que quiserem.
Um tema novo em Barueri, é a questão do funcionalismo. Como você imagina lidar com essa questão?
Eu sou funcionário concursado e vejo isso acontecer diariamente: muda a gestão, trocam os comissionados e entram pessoas que não têm preparo nenhum para exercer o cargo. Penso que todo mundo tem que trabalhar, tem que ganhar a vida, mas a prefeitura não é um bem individual, ela é um bem comum, ela tem que ser para todos. As pessoas que são concursadas hoje, têm que ser valorizadas, acho que têm que ser consultadas. Não tem um programa pronto, um plano de carreira pronto, mas eu acho que é justo que a pessoa entre e, como numa empresa, pense em progredir. A gestão pública e a gestão empresarial privada têm que se assemelhar. Chegou a hora de a gente mudar um pouco a visão de que o público pode ser feito de qualquer forma. Precisamos de profissionais competentes nos lugares certos. Nós temos um número excessivo de secretarias e não só de funcionários, secretarias que se confundem nas suas funções. Os cargos comissionados seriam para pessoas com notório saber, para especialidades. O município não tem um funcionário específico numa determinada área, contrata-se esse profissional para exercer uma função pontual, com contratos específicos, por tempo determinado. Para os demais comissionados, podemos analisar a questão da eficiência e manter por um tempo, mas a ideia é manter os cargos comissionados apenas para notória especialidade e valorizar quem é concursado.
Qual é a grande questão ambiental no momento para Barueri?
A Unidade de Recuperação Energética (URE), para incineração de lixo. Não sei de que forma está sendo feito, só ouço dizer que foram levadas pessoas para outros países para analisar, mas tudo o que eu tenho lido a respeito é que não é benéfico para a população. O lixo é um problema, acho que o aterro sanitário é uma saída interessante, mas essa usina, da forma como está sendo colocada, não é apropriada. Nós temos um lixo muito diferente do que de outros países, nosso lixo ainda é muito úmido. A ideia é queimar tudo, inclusive o que poderia retornar para a sociedade em forma de outros produtos, trazendo benefício para a natureza e para todos nós. Então não vejo a URE com bons olhos, até porque o valor a ser empregado nessa obra é astronômico, é mais um elefante branco parecido com o estádio de futebol que temos, que não é autossustentável.