quarta-feira, dezembro 4, 2024
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Três da madrugada

por: Redação

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Ingrid Teixeira estreia no BnR viajando na insônia digital e saltando de um assunto a outro numa sincronia caótica entre mente e computador

Ingrid Teixeira BnR
Ingrid Teixeira, estudante e moradora de Barueri a vida toda, frequentadora dos (bons) espaços públicos, dividida entre amor e ódio pela cidade. Já que não se decide, o melhor é rir da situação, e pra isso tinha a página Barueri da Depressão, que até 2014 juntou 17 mil seguidores ao redor do deboche, fruto de sua visão crítica aos veículos de comunicação. Seu posicionamento à esquerda quase sempre a leva a ter um sorriso sarcástico e uma piada irracional para os momentos mais prosaicos da rotina

“Preciso pesquisar sobre Basquiat… me parece que ouvi alguém falando a respeito naquela exposição sobre grafite.” Abro uma aba do navegador, mais uma aba, digito BASQUIAT e na busca vem uma imagem de um coração desenhado com batom rosa no espelho de um banheiro.

Vou de Basquiat a uma canção do Pedro Luís e a Parede, mas me lembro que são duas da manhã e que minha jam-session-da-internet já dura mais de sete horas. 

Um choque de cores passa voando na minha mente, aquela interminável torrente de pensamentos que geram outros e que quando se percebe, tem 30 abas abertas no navegador de assuntos totalmente diferentes e que só a minha mente sabe a conexão que fez de detalhe em detalhe.

A confusão começava como a terra, que era sem forma, mas na minha mente explodia em ideias me nocauteando. O fio que me levava passava por meus olhos e parecia que tudo dentro da minha mente era absoluto e puro, e o resto apenas imagens rascunhadas da realidade.

“Qual o preço do novo carro da marca Jeep; de quem é o rosto estampado nas notas do real; qual a cotação do dólar para hoje; quanto eu gastaria para viajar até Cotonou; preciso melhorar meu inglês; o quadro do Demolidor que encomendei para decorar a casa já está pronto; Hells Kitchen parece ser tão legal; como deve ser vivenciar a cena cultural de Nova York atualmente…” voltei ao Basquiat.

A Rebelião do Boxeador era uma explosão violenta nos meus pensamentos banais, as duas e meia da madrugada tudo o que eu queria era terminar.

basqiat
O nova-iorquino Jean Michel Basquiat foi um dos precursores do grafite e da arte de rua. Tornou-se um ícone da arte pop explorando, entre outras coisas, o caos das cidades e da mente humana. Sua obra Boxer Rebellion (A revolta do Boxeador), acima, é uma das marcas dessa tendência

A música de Pedro Luís parece bonitinha – vamos voltar o relógio, fotografar os segredos… Resolvo ouvir o álbum de 2001 inteiro, depois ouço outro de 1997 como último ato daquela sessão, juro para mim mesma.

Olho pela janela tentando frear o rio contínuo de ideias que se passa dentro da minha cabeça… Pedro Luís resmunga “Dragoflex” umas três vezes numa música lenta… Dragoflex é cama, são três da manhã… preciso dormir.

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