Francisco Morales revela as dificuldades para manter a memória numa cidade em que o conceito de progresso despreza a história
A contradição entre progresso e preservação do patrimônio sempre foi uma preocupação para Francisco Morales. Ele debateu-se com a questão durante os dez anos em que foi membro do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural (Comphic). “A necessidade do progresso é atender ao possível bem-estar social”, afirma ele. “O problema é que o conselho abre mão de sua missão para ceder à administração municipal, que tem outros propósitos para aquilo que se entende ser importante para a história, como memória viva”, lamenta.
Chiquinho, como é conhecido, foi presidente do Comphic no biênio 2013-2015, e ao fim de seu mandato pediu afastamento do órgão. No período em que esteve no Comphic, ele testemunhou os esforços do conselho para tombar a capela da Aldeia de Barueri, o prédio do Museu Municipal, no Jardim Belval, a capela de São Judas Tadeu, no Jardim Silveira, e algumas árvores centenárias. “A capela de São Judas foi tombada provisoriamente em 2000 e até hoje está em processo de tombamento definitivo” explica.
Mas ele conta que outros prédios de relevância histórica para o município não tiveram a mesma sorte. “Por razões da exigência do desenvolvimento político-administrativo do município, eles não foram poupados”, afirma. “Então, entendemos que nem sempre é possível preservar o que se entende, baseado na lei, que deve ser mantido em pé para contar parte da história da cidade.”
Chiquinho dá dois exemplos disso. O primeiro é o conjunto de prédios da Vila D. José, onde funcionou a chácara de retiros mantida pela Congregação da Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado. A ordem realizou durante anos um importante trabalho religioso e social que foi fundamental para o município, além de promover retiros e cursos de interesse comuns à sociedade. Parte daquela área foi desapropriada pela prefeitura para a instalação do Parque Municipal, mas outra parte foi negociada com o mercado imobiliário.
Outro caso é do prédio construído pela família Loureiro nos anos 50 para abrigar o Cine Jardim, que funcionou até 1967. Depois, a construção foi cedida para uso do Grêmio Recreativo Barueriense, clube social fundado naquele mesmo ano e que encerrou suas atividades em 1971. O prédio sofreu então alterações para ser alugado à prefeitura, e ali passou a funcionar o pronto-socorro central, chamado à época de Semasb, antecessor do Sameb. Depois, passou a ser a sede Câmara Municipal, até que finalmente o ex-Cine Jardim foi ao chão para a construção do novo prédio do Paço Municipal.
Ele lembra que a lei 641, de 1988, afirma que constitui o patrimônio histórico e cultural do município o “conjunto de bens móveis e imóveis que seja do interesse público conservar e proteger contra a ação destruidora da atividade humana e do passar do tempo”.