26 de Agosto de 2016
O voto nulo voltou com força à pauta do eleitor para as eleições deste ano. A desilusão com a política, a falta de novas lideranças e os escândalos generalizados de corrupção têm feito boa parte do eleitorado engajar-se na campanha de não votar em nenhum candidato como protesto.
Deixar de votar como forma de repudiar os partidos, os políticos ou mesmo o sistema eleitoral é um instrumento legítimo do eleitor, uma forma de dizer que nada do que lhe é oferecido lhe interessa.
Na época da ditadura, por exemplo, anular significava dizer que o povo era contra o regime, que não aceitava seus candidatos, que queria a volta da democracia. Como o voto era escrito, o eleitor aproveitava ainda para deixar mensagens contra os governos ditatoriais.
No entanto, nem sempre anular, votar em branco ou deixar de comparecer tem o efeito imaginado. No regime democrático, o não-voto serve, na realidade, para manter as coisas como estão. Na prática, acaba sendo um benefício para o vencedor, que terá mais vantagem quanto menos gente participar.
Usando como exemplo as últimas eleições municipais, Gil Arantes bateu Carlos Zicardi por 23 mil votos. Ao mesmo tempo, 47 mil pessoas deixaram de votar, anularam ou votaram em branco. Se apenas 15 mil desses não votantes optassem pelos outros candidatos, haveria segundo turno. Ou seja, nesse caso específico, Gil beneficiou-se da redução do número dos votos válidos.
O eleitor poderá perguntar de que valeria um segundo turno entre Gil e Zicardi, se o resultado seria provavelmente o mesmo. Primeiro, os dois disputantes da segunda rodada eleitoral teriam de procurar os demais candidatos em busca de apoio, e é aí que podem ser feitas exigências programáticas e de governo.
Além disso, o eleitor teria deixado um recado verdadeiramente claro sobre seu descontamento e a disposição de decidir por outras escolhas, o que deixa os políticos favoritos sob pressão.
Em 2012, de cada 10 eleitores cadastrados, 3 optaram por não votar. Exerceram seu direito legítimo de não participar. É possível que este ano o índice seja ainda maior. No entanto, a julgar pelo que ocorreu quatro anos atrás, o protesto não surtiu nenhum efeito prático. Além disso, quem não vota tem seu direito de reclamar e reivindicar posto em xeque.