Depois de dez anos de preparação, o barueriense João Garcia, professor das escolinhas do GRB, é campeão mundial de jiu-jítsu em sua categoria
O barueriense João Garcia tornou-se campeão mundial de jiu-jítsu na categoria peso meio pesado, sênior 1, faixa roxa em competição disputada no último fim de semana no Ibirapuera. Além disso, foi terceiro colocado na categoria sênior 1, absoluto. Para chegar ao título, além de adversários difíceis, o atleta, que é professor e diretor de Lutas da escolinha de esportes do Grêmio Recreativo Barueri (GRB), enfrentou uma crise de hipoglicemia pouco antes de disputar a grande final.
João lutou judô em alto nível durante muitos anos, mas as contínuas lesões típicas do esporte o levaram a pensar em parar, até que descobriu o jiu-jítsu. Assim, já maduro, precisou começar do zero em outra modalidade. Após quase dez anos, em 2015 ele enfileirou uma sequência de títulos: campeão paulista, brasileiro e pan-americano na categoria absoluto (em que não há limites de peso), pela Confederação Brasileira de Jiu-Jítsu Esportivo.
Era a hora de ser campeão mundial
Faltava o mundial, que não falta mais. Foram anos de sacrifício, de acordar a 6 da manhã e dormir às 11 da noite, treinando três vezes por dia. “Quem olha de fora, não vê tudo o que o esportista passa.” Para isso, o apoio da equipe e da família é fundamental. “Todo mundo passa tudo junto com você, se eu faço regime, a família toda faz, não posso comer um filezinho de frango e os outros atacarem uma pizza na minha frente. Seria sabotagem”, brinca.
Na etapa final de preparação e nas lutas, João enfrentou todo tipo de desafio. O primeiro foi a ansiedade na semana final. “Eu já não comia direito, perdi dois quilos em dois dias, o sono demorava, era ruim, eu cheguei a sonhar com as lutas”, explica. Além disso, na véspera do campeonato ele tinha que tomar uma decisão difícil. Se lutava ou não na quinta-feira na versão absoluto, onde participam competidores de todos os pesos, e que seria disputada um dia antes da sua categoria.
“Não é uma decisão que se toma sozinho, eu consultei todos que trabalham comigo, que têm me apoiado esses anos todos.” A preocupação é de que ao lutar com um oponente muito mais pesado, há o risco de uma lesão, e isso o tiraria da disputa de sua categoria. “Eu tenho 88 quilos, poderia enfrentar alguém 40 quilos mais pesado, e são 40 quilos de músculos.”
No final, o conselho da equipe foi para que ele não disputasse. Ele decidiu ir apenas assistir mas, é claro, acabou lutando. “É como um jogador de futebol que vai a uma pelada só para ver. No final, ele acaba jogando”, conta. João conseguiu se dar bem nas lutas do absoluto e terminou em terceiro, sem nenhuma lesão. O que ele não percebeu é que o esforço feito nessas disputas seria cobrado no dia seguinte.
Na sexta-feira, sua categoria, meio-pesado, de 82 a 88 quilos, seria disputada à tarde. Na abertura, ele considera que fez uma luta muito boa, onde pôde usar seus conhecimentos de judô para ficar sempre em vantagem. Além disso, a vitória tira muito do estresse, mas ele percebeu que o desgaste de véspera seria um grande problema dali em diante.
Susto e quase tudo é perdido
Na semifinal João viveu um drama inesperado. “Enfrentei um uruguaio muito forte, que tinha uma força física desproporcional e não tinha lutado no absoluto, estava descansado”, conta ele. O brasileiro conseguiu abrir uma boa vantagem de pontos nos primeiros três minutos, mas começou a sentir câibras. “Como estava na frente, pensei em levar até o quinto minuto, mas também me deu uma tontura, o corpo foi ficando mole, eu não conseguia respirar.”
Era uma crise de hipoglicemia. João é diabético. “Eu fiquei mole, não conseguia respirar, as pernas começaram a bambear.” O médico tentou reanimá-lo, mas não dava resultado. O tempo passava e a melhora não vinha. Ele foi aconselhado a desistir, mas recusou. Até sua mulher, Bianca, sugeriu isso. Mas ele pensou: “eu não trabalhei tanto, me sacrifiquei tanto, para perder assim”. Para João, se era para perder, que fosse lutando.
O horário da decisão foi chegando e nada de melhorar. “Aí eu percebi que meu adversário e a equipe dele comentavam que eu estava derrotado, que eu não conseguiria nada, que a luta estava ganha”, lembra ele. “Aquilo me deu um estímulo e uma energia que eu não sabia que tinha.”
O barueriense entrou para a final com muita vontade. E se superou. “Foi uma grande luta, parecia até a final de um mundial”, brinca ele. “O grande problema do meu adversário foi me menosprezar. Ele meu deu uma motivação extra.”
Amor pelo esporte
João Garcia é um amante do esporte, que ele vê como uma forma de educação social. O título de campeão mundial para ele não é uma vaidade, mas um incentivo para trabalhar por seus alunos. “Você vira um ponto de referência, você dá aos outros esperança de transformação e ascensão social. Você estimula os outros a praticar não para se tornar campeões, mas para ter uma vida melhor, ter uma condição de saúde melhor.
Conheça aqui a trajetória de João Garcia:
Das ruas para a consagração nos pódios do judô e do jiu-jítsu
Ele só lamenta que o mundial não tenha sido em Barueri. “Tínhamos todas as condições de organizar.” Em sua opinião, isso seria um grande incentivo ao esporte na cidade. “Nosso esporte forma cidadãos, reforça os valores éticos e morais, ensina o respeito”, explica. “O campeão só é campeão quando sobe no pódio, mas o cidadão é cidadão o tempo todo”, diz.
João também compartilha seu sucesso com quem o apoia. “O pessoal do Team Cruz de Barueri, o Jonathan e o André, que não se cansam de me ajudar, e minha esposa Bianca…” Quando fala da mulher, João não para. “Ela me apoia em tudo, está sempre junto, treina comigo diariamente. Imagina, tem 20 quilos menos que eu, e treina encaixe, mata-leão.” Aqui, ele conta um episódio do mundial. Depois de perder a luta, na cerimônia de premiação, o lutador argentino fez uma provocação. Bianca olhou para ele e não hesitou: “Já apanhou uma vez hoje, vai querer apanhar de novo?”
Quando fala, João sempre enfatiza a humildade, mas ao lembrar todo o esforço que fez, cada passo que deu, as críticas, as dúvidas e o descrédito, ele deixa escapar um segundo de orgulho: “Eu posso dizer que na minha categoria, na minha idade, não tem ninguém melhor no mundo no momento”.
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