Para Valter Klenk, os primeiros sinais do novo governo Furlan contradizem o discurso social adotado na campanha eleitoral
Rubens Furlan iniciou seu quinto mandato, no dia primeiro, dizendo que fará uma revolução na saúde. Prometeu que Barueri terá o “maior centro de diagnósticos do país” e que “o povo pobre terá saúde de rico”. Antes disso, na convenção do PSDB que o indicou candidato, em julho passado, afirmou que voltaria para fazer “o maior governo social de Barueri” ( “Em 60 dias ponho a cidade em seu lugar”, diz Furlan).
As afirmações do prefeito sempre encontram ecos na população e criam expectativas em todas as classes. Porém, reverberam com maior propriedade nos trabalhadores e na população mais carente.
Porém, como separar o que é marketing político do que é verdade? Ele diz que enxugará a máquina administrativa que estaria inchada. Na mesma convenção, disse que a cidade teria dez secretarias. Já após ser eleito, em outubro, disse que teria 14. Após o anúncio dos novos secretários, o montante ficou em 19.
Se não há definição no secretariado, quando o assunto é funcionalismo as medidas já começaram. Nessa segunda, em seu primeiro dia de seu governo, o Centro de Eventos foi palco de demissões que, estima-se, podem chegar a 1,2 mil dispensas, incluindo-se as áreas de educação e saúde, que é onde a população carente mais sente necessidade do poder público.
No ano passado, a administração assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) comprometendo-se a demitir os funcionários que, segundo o Ministério Público, teriam sido contratados de forma ilegal para cargos comissionados. Caso esteja atendendo à determinação judicial nas demissões atuais, Furlan está fazendo marketing político, já que não tem como descumprir a decisão. Agora, se não é para atender o TAC, porque demitir na Saúde?
O primeiro impacto a ser percebido é no Ganha Tempo. Os horários de atendimento, que até o último dia do ano eram das 7 às 19 horas, foram reduzidos para das 8 às 17 horas. O expediente aos sábados também foi cortado.
No dia 4, manifestantes ocuparam o terminal central e suas imediações em protesto contra o aumento das tarifas de ônibus que passaram de R$ 3,80 para R$ 4,20. A polícia acompanhou os manifestantes impedindo-os, inicialmente, de ir à frente da prefeitura. Depois, liberou o acesso, desde que só passassem por ela, sem parar para protestar. Furlan não apareceu para conversar com o povo. Nem para entender, nem para propor algo.
Se é para ser o maior governo social de Barueri, a conta não fecha. O trabalhador terá que perder horas de trabalho se necessitar dos serviços do Ganha Tempo. A passagem em Barueri é uma das mais caras do país, visto que a quilometragem rodada é muito menor que a de outros municípios. Demitir funcionários da saúde, que seria o carro-chefe do novo governo, piora o que já é precário.
O prefeito tem a totalidade da Câmara na base aliada. É parceiro do governo estadual. Tem a filha no Congresso. Tem a tão valorizada experiência administrativa. Obteve mais de 80% de aprovação nas urnas. Ou seja, tem a faca e o queijo na mão para cumprir suas promessas.
E, para que suas palavras não escoem pelo ralo do marketing político, que faça mudanças que realmente beneficiem a população: contrate funcionários para melhorar o atendimento (concursados), cancele o aumento das passagens (seria um afago, o ideal é diminuir para um valor justo), faça a licitação para incluir mais uma empresa de ônibus na cidade, conforme prega a Lei Orgânica e faça o Ganha Tempo voltar a atender em horários mais amplos.
Enfim, que faça o que prometeu, um governo voltado para o social. E, então, não será ovacionado apenas pelas crianças, em formatura, num ginásio, no final do ano, conforme afirmou ser seu desejo no discurso de posse.