Depois que menina morreu atropelada diante de escola, fluxo de vans e alunos foi organizado. Secretaria diz que situação é igual à das demais
Na semana seguinte à tragédia que aconteceu em frente à Emef Ezio Berzaghi, no Belval, o que se vê no horário de saída dos alunos em nada se aproxima do cenário que resultou na morte de uma estudante de 12 anos.
Ouvidas pelo Barueri na Rede, testemunhas da confusão que resultou no atropelamento e morte da adolescente na quinta-feira anterior, dia 4/8, revelam problemas recorrentes a que estão sujeitos alunos da rede pública, seus familiares, professores e funcionários dos estabelecimentos de ensino.
Segundo vizinhos e pais de alunos, diferentemente do que está ocorrendo esta semana – onde vans aguardam em fila para pegar os estudantes, além de parte dos ônibus estar no estacionamento interno da escola – a rotina sempre foi de tumulto, ocupação da rua e a ação de um grupo de jovens que não estuda na escola e costuma causar transtornos ali.
Leia sobre o atropelamento da estudante aqui: Menina morre atropelada em confusão diante de escola
De acordo com vizinhos, a saída das aulas sempre foi um momento de grande transtorno. “Junta um monte de ônibus e peruas que vêm buscar alunos com carros de pais, os próprios estudantes e jovens de fora que todo dia aparecem para arrumar confusão”, conta uma vizinha que mora praticamente em frente a escola, na avenida Henrique Gonçalves Baptista. Segundo essa testemunha, as brigas são frequentes;.
Além disso, a movimentação provoca um caos no trânsito local. “Tudo para, os alunos ficam andando no meio dos carros, não tem ninguém para orientar, para cuidar da faixa de pedestres”, diz outro morador. “As vans e carros não respeitam nada, param em qualquer lugar, sobem nas calçadas”, diz, mostrando os danos provocados pelos veículos diante de sua casa.
Igual às demais escolas
Em resposta a indagações feitas pelo Barueri na Rede, a Secretaria de Assuntos da Segurança (SAS), responsável pela Guarda Civil (GCM), afirma que “a lentidão no fluxo de veículos, em função da grande concentração de estudantes nos horários de entrada e saída, nesta escola não difere, de acordo com os registros da Guarda Municipal, da situação encontrada nas demais escolas do município.”
No dia do acidente, havia uma tensão a mais, pois um jovem de fora da escola havia na véspera agredido um aluno, invadido a escola para pichá-la e no próprio dia do atropelamento atacado com uma barra de ferro outro estudante. O garoto atacado precisou ser internado num hospital da cidade, mas teve alta no dia seguinte sem ferimentos graves.
Esse rapaz é bem conhecido na vizinhança e a ele são atribuídos casos como brigas com estudantes mais jovens, invasão de escolas para brigar e o fato de ter pichado paredes no interior da Ezio Berzaghi, o que teria provocado revolta dos alunos. Vizinhos da escola, pais de alunos, guardas municipais e funcionários da escola sabem seu nome e falam dele com conhecimento.
Velhos conhecidos
Desde o dia do atropelamento, o Barueri na Rede conversou com guardas municipais que costumam atuar na saída da Ezio Berzaghi. Eles contaram em detalhes como se dão essas confusões e falaram dos adolescentes de fora que fazem arruaça no local. “São mais velhos e maiores que os estudantes e vêm todos os dias, são ex-alunos daqui ou estudam em outras escolas”, conta um GCM que pede para não ser identificado. “Mas não há nada o que fazer”, lamenta. Ao site, a corporação disse que “não houve, por parte da Guarda, a identificação de situações que fujam da rotina escolar”.
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De acordo com a SAS, tem sido feito tudo o que é possível para dar segurança à entrada e saída de alunos dos estabelecimentos da rede pública. Segundo a corporação, a Ezio Berzaghi e a vizinha Aristides Costa e Silva contam com guardas patrimoniais que têm contato direto por rádio com a GCM que, no dia do atropelamento, foi acionada por um destes agentes.
“É muito comum tanto as escolas quanto pais de alunos solicitarem a presença de viaturas da Guarda Municipal nos horários de entrada e saída, mas como não há efetivo para guarnecer as mais de 100 escolas existentes no município, a Guarda Municipal faz este acompanhamento com patrulhamento e contato constante com os guardas patrimoniais, além de projetos educativos junto à comunidade escolar”, diz o texto enviado pela secretaria ao BnR.
GCMs que costumam atuar diante das escolas, no entanto, queixam-se do fim da Ronda Escolar do município, que tinha veículos exclusivos e agentes treinados para esse fim. “As equipes tinham mais integração com alunos, pais e funcionários”, diz um guarda que atuou no grupo. “A gente conhecia os problemas mais de perto, mantinha contato direto que permitia perceber problemas com antecedência”, explica.
Providências
Depois da morte da adolecente, foram tomadas providência para organizar a saída dos alunos da escola. Parte dos ônibus foi confinada num pátio que há ao lado do colégio ao qual os estudantes têm acesso sem ter de sair à rua. Ao mesmo tempo, o tráfego das vans foi orientado para que elas entrassem uma a uma num recuo definido diante da portaria, sem que houvesse acúmulo de veículos no entorno. Assim, os alunos saíam da portaria de acordo com o veículo da vez.
O Barueri na Rede esteve no local da quarta-feira e observou que não houve aglomeração de estudantes tanto nas calçadas quanto nas ruas, o trânsito não sofreu interrupção e a área foi evacuada rapidamente. “Hoje está bom e a orientação está funcionando, mas estão todos ainda chocados com o que aconteceu. Vamos ver quanto dura”, disse um vizinho. “Isso prova que quando tem pressão ou uma tragédia, os responsáveis encontram soluções”, desabafa a mãe de um aluno. “Precisou morrer uma criança que não tinha nada com a confusão para tomarem uma providência”, afirmou outra moradora.