A contradição entre o desejo do eleitor por mudanças na política e a segurança de optar pelo já conhecido devem dar o tom da eleição deste ano em Barueri
O brasileiro pede mudanças na política, quer novos nomes, ideias e cabeças e as pesquisas apontam que essa tendência deve se manifestar nas eleições de outubro. Em Barueri, não é diferente e o desejo de mudança está nas ruas, casas e redes sociais, mas particularidades da cidade podem resultar numa contradição entre discurso e prática, entre a busca por novidade e opção pelo conhecido.
Pesquisas realizadas no primeiro semestre mostram o inconformismo do barueriense com a classe política, seja nacional seja local. Um levantamento feito em março indicou que 40% dos eleitores da cidade diziam que não votariam nos dois principais líderes da cidade, Gil Arantes e Rubens Furlan, ou em quem eles indicassem. Ao mesmo tempo, porém, as indicações de voto davam vitória tranquila a Furlan com grande vantagem sobre qualquer concorrente.
Isso mostra que o eleitor oscila entre a vontade de mudar e a insegurança que o desconhecido pode trazer. O próprio Rubens Furlan, em suas manifestações públicas como pré-candidato, tem enfatizado esse ponto. “Precisamos voltar a ter aquela Barueri de volta”, costuma afirmar, referindo-se a seus mandatos anteriores, cujas ações são amplamente conhecidas pela população.
Seus eventuais adversários argumentam em sentido contrário. “Chega do mesmo, é hora de mudança”, diz Saulo Goes, pré-candidato a prefeito pelo Psol. “Nós representamos o novo”, afirma o presidente da câmara Carlinhos do Açougue, do DEM, que se apresenta como postulante ao Executivo desde que o prefeito Gil Arantes declarou desistir de disputar a reeleição. “Chegou a hora de enterrar os coronéis” é quase que um slogan do também pré-candidato a prefeito pelo PMN, Néo Marques.
Um dos efeitos da desilusão com a política é o elevado índice de eleitores que dizem que não pretender votar ou que vão anular o voto. Em Barueri, segundo as pesquisas, mais de 20% das pessoas declaram estar propensas a essas alternativas. Segundo a cientista política Jacqueline Quaresemin, professora da pós-graduação Opinião Pública e Inteligência de Mercado na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, não participar do processo eleitoral pode ser um protesto legítimo, mas não é um indicativo de mudança. “Não votar ou anular é o mesmo que deixar como está”, explica. “Quem deseja mudar, deve indicar em que rumo quer essa mudança.” E ela afirma que esse desencantamento é grave porque muitos perdem a esperança de que a política possa contribuir com as mudanças desejadas.
Contradição
Entre os pré-candidatos a vereador, o discurso da mudança é quase unanimidade, mesmo entre aqueles que já tentaram uma cadeira na câmara mais de uma vez. Eles estão conectados com o que se diz nas ruas e, em especial, nas redes sociais, onde o desconforto com os políticos é visível.
Ao mesmo tempo, porém, esses pré-candidatos, independentemente de partido, estão empenhados em associar seu nome de alguma forma a Rubens Furlan durante a campanha. Hoje, o ex-prefeito tem quase 20 legendas e esse número deve aumentar nos próximos dias. O próprio DEM, de Carlinhos do Açougue, alinhado ao prefeito Gil durante todo o seu mandato, discute essa possibilidade.
Do ponto de vista estratégico, esse alinhamento aumenta a capacidade de penetração e aceitação de uma parte considerável do eleitorado, mas também tem potencial de revelar uma contradição que o eleitor pode entender como oportunismo. “Num ambiente de hostilidade contra a política e os políticos, o eleitor mais atento vai sentir que com esse discurso de duas caras estão querendo fazê-lo de bobo”, opina o especialista em marketing político Moacir Vargas. “O brasileiro está mais atento a partir dos fatos que se desenrolaram desde 2013, eu não indicaria a um candidato adotar uma posição ambígua como essa.”