Leandro Kdeira nos traz um relato de uma cena cotidiana vivida por ele, e lança uma lupa sobre alguns conceitos a respeito das pessoas com deficiência
Dia desses fui resolver alguns assuntos burocráticos do meu trabalho em um estabelecimento aqui de Barueri.
Estou lá esperando ser chamado, e ao me chamar a atendente já manda um:
– Mal te conheço, mas já te admiro.
Eu todo sem jeito, – sou tímido – imaginei que fosse uma cantada ou algo do tipo. Perguntei o porquê da admiração.
– Ah, é por que você está trabalhando. Tanta gente por aí que tem duas pernas, são preguiçosas e não querem saber de nada.
Hashtag chateado.
Respirei fundo. Contei até 10 – mil – e de forma bem-educada respondi:
– Bem, acredito que a preguiça não esteja ligada a condição física, religião, gênero, raça ou qualquer outra coisa. Ela ficou me olhando por alguns segundos e concordou.
Sim, eu entendi qual foi o sentido da admiração da atendente. Sei que as pessoas nos olham como fontes de inspiração, adoram postar fotos de pessoas com alguma deficiência com a legenda “e você aí reclamando da vida!” e vídeos “motivacionais”, em seguida estão estacionando em vaga reservada por só “dois minutinhos.”
É comum, infelizmente eu encontrar pessoas que ainda se surpreendem por me ver simplesmente conversando, que dirá fazendo outras coisas. Os elogios são sempre baseados naquilo que não posso fazer, onde o correto deveria ser nos valores humanos. Podem me chamar de lindo, deuso, muso, sem esse lance de, apesar de ser cadeirante ele é isso ou aquilo.
Esse tipo de olhar para a Pessoa com Deficiência ainda é fruto de um período histórico recente e triste, onde éramos e ainda continuamos sendo vistos como inúteis, incapacitados, coitadinhos. Temos muito a trilhar para que a sociedade mude o seu jeito de olhar e enxergue em nós, pessoas com condições, independente de aspecto físico, derrubando de uma vez esse papo de “exemplo de superação”.