Terminou nesta segunda-feira a busca por Simone, que desapareceu em 2007, aos 32 anos
O telefone tocou na manhã da terça-feira, 27 de novembro. Do outro lado da linha, a voz da funcionária do Instituto Médico-Legal (IML) era gentil e tensa: “Dona Isaura, tenho uma notícia muito triste, mas que vai trazer paz para a senhora. Os ossos são mesmo da Simone”. Para Isaura Stamboni, de 72 anos, terminava ali a busca pela filha desaparecida onze anos atrás. Era a notícia que ela temia e esperava ao mesmo tempo sobre os ossos encontrados no centro de Barueri em julho deste ano.
A via-crucis de Isaura para ter notícias da filha começou no sábado, 3 de março de 2007. Na véspera, Simone Felix de Lima, então com 32 anos, saiu do trabalho, a 400 metros de casa, no centro da cidade, circulou com amigos pela região por cerca de três horas e desapareceu. Desde então, a mãe a procura incansavelmente.
Fazia apenas 15 dias que a filha tinha ido morar com ela na rua Vitória, na Vila São Jorge, região central. Simone havia encerrado um casamento de 14 anos, cansada da agressividade do marido. Os dois tinham um filho de 13 anos, que naquela época passava a semana com a avó, porque estudava em Barueri, e os fins de semana com os pais, em Jandira.
Naquelas duas semanas em que viveram juntas, Isaura percebeu uma tensão na filha, e até a questionou. “Mas ela não quis me dizer o que era, só pensava em começar uma vida nova”, conta a mãe.
Simone era uma mulher bonita, comunicativa e bem humorada. Tinha facilidade para fazer amigos. Aparentava ser mais jovem do que realmente era. “Ao mesmo tempo, era muito séria, altamente profissional, querida pela clientela”, conta Gilberto Damião, dono do salão de cabeleireiro onde a jovem trabalhava na ocasião do desaparecimento.
Desde o sumiço, Isaura não se cansou de ir a delegacias, de procurar informações e conversar com pessoas. Foram anos assim. Ela é uma mulher forte, determinada, mas com o passar do tempo percebeu que tudo era em vão. A partir de um certo momento, conformou-se de que não veria mais Simone. “As roupas dela no guarda-roupa foram amarelando e eu doei. Deixei apenas umas pecinhas de recordação”, conta. E então, seu esforço passou a ser acabar com aquela incerteza.
Uma ossada no centro da cidade
No dia 10 de julho deste ano, uma ossada foi encontrada numa obra na avenida Henriqueta Mendes Guerra, altura do bulevar. Operários trabalhavam na reforma de uma loja e tiveram que derrubar uma parede que protegia o vão inferior de uma escada que levava ao andar de cima.
Atrás dos tijolos, havia muita terra, e quando os pedreiros começaram a removê-la, apareceram ossos humanos. A polícia foi acionada. Logo percebeu-se que se tratava de um esqueleto que havia sido enterrado havia vários anos. A ossada foi então encaminhada ao Instituto Médico-Legal para perícia e a Polícia Civil instaurou inquérito para apurar o caso.
O Barueri na Rede passou a acompanhar os desdobramentos e tentar encontrar pessoas que poderiam ser familiares da pessoa enterrada. Ao mesmo tempo, Gilberto Damião foi alertado por Marco Antônio, o Marcão, da página Memórias de Barueri, sobre a descoberta. Ambos conheciam a história de Simone, e Gilberto prontificou-se a promover um encontro entre Isaura e o site.
No dia 31 de outubro, a mãe recebeu um jornalista e o cabeleireiro em sua casa na rua Vitória. Isaura não sabia da ossada encontrada, mas de imediato teve certeza de que se tratava dos ossos de sua filha. Reiniciou, então, sua busca.
Durante um mês, Isaura mal dormiu. Esteve na Delegacia de Polícia de Barueri, nas unidades do IML em Osasco e São Paulo, conseguiu o mapa da arcada dentária e um raio X odontológico da filha, colheu saliva para exame de DNA. Finalmente, no dia 27, recebeu o telefonema que confirmava que os ossos eram mesmo de Simone.
Nesta segunda-feira, 3/12, Isaura recolheu os despojos de sua caçula, dentro de um saco vermelho, no IML de Osasco, e os depositou no compartimento K285 do ossário do cemitério de Barueri. Terminava ali uma de suas buscas. A outra, começa agora: descobrir quem matou Simone. Seu coração de mãe tem intuições, mas ela não aponta o dedo para ninguém.
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