Em quatro séculos, Barueri pouco cresceu. Depois da emancipação, sofreu uma total transformação em apenas três décadas
Foram necessários apenas 30 anos para Barueri sair da situação de uma pequena vila que acabava de se transformar em município para uma das cidades mais importantes do país. Entre 1949 e 1979, foram ciclos de penúria, relativo progresso, explosão demográfica e, finalmente, independência econômica.
Nos primeiros tempos como município, Barueri viveu anos de estagnação. Com apenas quatro empresas de porte, parcos recursos próprios e sem o respaldo financeiro de Santana de Parnaíba, a nova cidade não tinha dinheiro nem para manter um quadro de funcionários. No primeiro ano, eram apenas três e nenhum secretário. Para complicar, com a emancipação veio junto o distrito de Carapicuíba, que tinha o dobro da população e nenhuma receita.
Esse quadro vai manter Barueri à míngua por praticamente 15 anos, até os anos 1960, quando três fatos importantes mudam radicalmente sua história. O primeiro dele deles ocorre em 1964: a instalação da comarca, e no ano seguinte ocorre o segundo: a emancipação de Carapicuíba em 1965. Com o Judiciário, que não produz despesas, chegam escritórios de advocacia, o comércio se beneficia com a movimentação que o fórum provoca e a economia local ganha algum impulso.
Ao mesmo tempo, a separação de Carapicuíba livra Barueri de uma série de compromissos financeiros. Boa parte do dinheiro que tinha de ir para lá, ficou disponível para investimentos aqui.
É a partir daí que efetivamente surgem as primeiras obras na cidade, como a retificação do curso do rio Barueri Mirim entre o centro e o Belval. Em 1967, a cidade recebe quase que com festa um trator comprado para trabalhar na abertura e manutenção de ruas dos novos bairros. A máquina foi benzida e batizada pelo padre.
A Castelo Branco
O terceiro evento ocorre em 1968, com a inauguração da rodovia Castelo Branco. A estrada deslocaria a posição de Barueri no mapa da Grande São Paulo. A partir dali, a cidade, então isolada, ficou a poucos minutos da capital e totalmente ligada ao interior.
As áreas às margens da Castelo se valorizaram e os bairros se multiplicaram. No começo dos anos 1970, começa a grande expansão populacional da cidade e, num primeiro momento, a rodovia traz um problema: Barueri vai se transformando num município com muita gente, pouco trabalho e, em consequência, pouca receita. Em outras palavras, uma cidade-dormitório.
Mas é justamente de uma dessas áreas à beira da rodovia que sai a solução.
Em 1973, a Câmara de Barueri se vê diante de uma proposta incomum. Mudar a planta genérica da cidade para a instalação de um condomínio empresarial. O conceito era novo, desconhecido dos vereadores locais. As áreas envolvidas, tinham enormes problemas legais, Além disso, o nome era estranho: Alphaville.
O prefeito Guilherme Guglielmo, o Perereca, empenhou-se na aprovação, houve resistências, a Câmara teve sessões tensas, vereadores brigaram, mas o projeto foi aprovado. Cinco anos depois, a arrecadação de Barueri começou a se multiplicar num ritmo cada vez maior. Em seis anos, de 1978 a 1983, o orçamento cresceu dez vezes.
Uma das mais ricas do Brasil
Nesse momento, a cidade atingiu outro patamar, que permitiu que hoje estivesse entre as 20 mais ricas do Brasil segundo qualquer indicador que se escolha. Segundo o mais importante deles, o que mede o Produto Interno Bruto (PIB) dos Municípios, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Barueri é a 16ª cidade mais rica do país.
Segundo o levantamento mais recente da série histórica, baseado em números de 2013, a cidade tinha um PIB de R$ 44,1 bilhões. Excluindo-se a capitais, ela aparece em sexto no Brasil.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos numa região por um determinado período. Ele é o indicador oficial para medir o tamanho e as mudanças na economia e o IBGE é o organismo responsável por sua aferição.
Barueri está num seleto grupo de oito cidades do Estado de São Paulo que se destacaram na geração de riqueza. Cada uma delas teve participação, em 2013, de mais de 0,5% do PIB do país. Osasco e Campinas estão no topo da lista, com 1% do valor do PIB nacional, cada uma. Na sequência aparecem Guarulhos e São Bernardo do Campo, com participação de 0,9%; Barueri (0,8%); Jundiaí (0,7%); São José dos Campos (0,5%) e Sorocaba (0,5%).
O indicador mais interessante para a cidade, no entanto é o PIB per capita. Ele divide o PIB do município pelo número de moradores, tendo como resultado o que seria o índice de riqueza da cidade que caberia a cada munícipe. Nesse caso, Barueri é a 11ª do Brasil, com uma geração de riqueza correspondente a R$ 117,8 mil por morador.
Este é o número mais preciso para indicar o poder econômico, pois apontaria o quanto poderia ser oferecido a cada um. E, no caso de Barueri, torna-se mais relevante, porque todos os municípios que estão à sua frente têm alguma fonte pontual de riqueza, como produção de petróleo, grandes jazidas de minério ou usinas hidrelétricas. Barueri é a primeira cidade do ranking mantida exclusivamente por sua atividade econômica própria.
Serviços x indústria
Se analisados os setores da economia, Barueri também é a 11ª no quesito comércio e serviços, com um PIB setorial de R$ 26,5 bilhões. É o setor em que o município mais se destaca. Diferentemente da área industrial, por exemplo, em que ocupa apenas a 43ª colocação, com R$ 4,4 bilhões.
A comparação dos dois números revela uma vocação para a área de serviços, mas também permite avaliar que a situação da cidade poderia ser melhor se houvesse incentivos para as indústrias.
Outro aspecto apontado pelo estudo é que Barueri não aparece na lista das 100 que mais se beneficiam de recursos externos, como repasses, financiamentos e participação em programas estaduais e federais. Como exemplo, pode-se pegar a área de saúde, em que Barueri é uma das que têm o mais alto índice de financiamento do setor com recursos exclusivamente próprios. Essa condição revela uma característica histórica da cidade: seus dirigentes, ao longo das décadas, tiveram pouco interesse em buscar verbas para áreas como educação, saúde, habitação e obras.
“Desde que a arrecadação do município cresceu, o desperdício foi uma das marcas das administrações”, diz o historiador Elias Silva. “Além do desprezo com verbas estaduais e federais, criou-se a prática de realizar a mesma obra várias vezes, construir e destruir para fazer de novo”, afirma, dando como exemplos a canalização e cobertura do rio Barueri Mirim e o próprio prédio da prefeitura, feito e refeito várias vezes nos últimos 30 anos.
[…] Fonte: http://baruerinarede.com.br/de-vilarejo-a-potencia/ […]