Segundo reportagem do R7, em carta, testemunha afirma ter sido coagida pela polícia e Promotoria
Pouco mais de um mês depois do julgamento que condenou dois policiais militares e o GCM de Barueri, Sérgio Manhanhã a mais de 100 anos de prisão, uma reviravolta pode comprometer todo o processo do que ficou conhecido como a Chacina de Osasco.
Na tarde desta quarta-feira, 1/11, o portal de notícias R7 divulgou a informação de que a principal testemunha da acusação teria admitido em carta que foi coagida pelas autoridades a mentir. Protegida no processo sob o pseudônimo de Gama, e considerada peça-chave da acusação, a testemunha, segundo o portal, afirma, em texto endereçado à Corregedoria da PM, que mentiu no depoimento à Polícia Civil e diz que foi ameaçada pelo delegado e pelo promotor do caso para que levasse as acusações adiante.
O prêmio de R$ 50 mil, oferecido pelo governo para quem desse informações que ajudassem na resolução dos crimes, teria sido outro fator que levou ao falso testemunho. Em depoimento à polícia, ela teria relacionado diretamente um dos PMs aos assassinatos. Mesmo não tendo sido ouvida durante o júri popular, essa nova afirmação da testemunha compromete todo o processo.
Ouvido pelo Barueri na Rede, Abelardo Rocha, advogado de defesa do GCM Sérgio Manhanhã, que desde o começo foi contundente sobre a inocência do cliente, afirma que esse novo fator só reforça todas as irregularidades que ele apontou desde as investigações. “O processo, além das contaminações formais que já existem e são suficientes para torná-lo nulo, agora pode dar origem a um novo júri. Essa notícia acabou mostrando que o inconformismo da defesa tem precedentes e que a visão dos jurados estava absolutamente contaminada”, afirmou o advogado.
Na ocasião do julgamento que condenou Sérgio Manhanhã, Abelardo Rocha foi categórico ao afirmar que a decisão do júri foi totalmente emocional, e não baseada nas provas do processo. Segundo ele, diversas falhas, tanto da investigação como de pontos apresentados pela promotoria, deixavam claro que o GCM não tinha nenhuma ligação com os homicídios.
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Mesmo diante de falhas apontadas no processo, como a falta de laudo pericial no celular de Sérgio Manhanhã – que foi relacionado à chacina por uma troca de emojis (imagens) de whatsapp, o promotor do caso, Marcelo Oliveira, sempre afirmou ter provas suficientes para a condenação dos acusados, como na entrevista que deu ao BnR.
Mas na revelação de que teria mentido em depoimento, a testemunha afirma que teria sido coagida pelo delegado e pelo promotor. Em trecho da carta, segundo o R7, constaria que “quando tentou recuar do depoimento, o delegado Andreas Schiffmann, do Setor de Homicídios de Carapicuíba, o levou ‘quase obrigado’ ao Fórum de Osasco para conversar com promotor Oliveira”.
Em outra parte da carta, a testemunha relata um outro episódio em que foi diretamente pressionada pelo promotor: “Se você não colaborar vou jogar [revelar] teu nome no plenário, aí não vai ser mais a polícia atrás de você para ajudar, e sim os amigos assassinos do Thiago [Henklain] [sic]”, teria dito o promotor.
Leia a Carta de testemunha, na íntegra
Durante o júri, em vários momentos, Marcelo Oliveira expôs a testemunha, que estava com a identidade mantida sob sigilo para a própria proteção e não quis comparecer ao julgamento por medo de represálias.
Anulação do julgamento
Diante das novas revelações sobre o depoimento da principal testemunha de acusação do caso, Abelardo Rocha, que entrou com apelação na mesma hora em que Sérgio Manhanhã teve a sentença revelada, diz que agora vai pedir a anulação do júri. “Esses fatos atentam contra a própria Justiça. Corremos o risco de ter aqui em São Paulo o maior precedente de uma decisão errada do Tribunal do Júri, à partir da influência do Ministério Público e da Polícia Civil sobre uma testemunha forjada que, com mentiras, incriminou um dos réus”, argumenta o defensor do GCM de Barueri que esta aguardando, preso, o resultado da apelação da condenação aos 100 anos de detenção.