terça-feira, agosto 26, 2025
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Quem é a guarda municipal que impediu suicídio no viaduto da Campos Sales

por: Redação

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GCMF Marinho usou de recurso psicológico para conseguir se aproximar do rapaz e tirá-lo do beiral da ponte

Quase no final de seu plantão que terminaria às 6 horas da manhã, a Guarda Civil Municipal Feminina Marinho e seu parceiro de viatura foram alertados por um munícipe a respeito de um rapaz que estava à beira do viaduto da rua Campos Sales, sobre a Castelo Branco. Era segunda-feira, 17/8, e eles estavam parados na praça do Rotary, por volta das 5 horas. A princípio, a GCMF pensou que se travava de um operário da obra que ocorre no local, e junto a seu parceiro foi verificar o caso.

Ela não queria acreditar, mas de fato aquele rapaz sentado no beiral do viaduto estava chorando e queria cometer suicídio: “não chega perto que eu vou pular”, gritou o rapaz à GCMF. Começaria ali uma conversa de aproximadamente 11 minutos, com muitos recursos psicológicos, cujo desfecho foi uma vida salva pela ação inteligente e humana de uma guarda-municipal de Barueri.

“Não se tratava de um morador de rua, por exemplo. Era um rapaz de seus 30 anos de idade, bem-vestido, com uma mochila nas costas. Não soluçava, mas dava pra ver muitas lágrimas em seu rosto. E era grande, bem maior que eu. Então a possibilidade de eu já chegar de forma abrupta pra puxá-lo já não era mais possível”, explicou a GCMF Marinho em entrevista ao Barueri na Rede.

Gatilho emocional

Ela precisava ganhar a confiança do rapaz, perguntando para ele informações pessoais. “Fui fazendo a leitura para entender até onde era o nível de desespero dele. Eu falei, ‘tudo bem, eu não vou até você. Mas o pessoal está assustado que você está aí, foram me chamar ali, e eu queria só saber o que está acontecendo, se eu posso te ajudar, fazer alguma coisa por você’. Ele respondeu que estava cansado, que ajudava todo mundo, família, colegas, mas que ninguém o apoiava”, contou Marinho. Àquela altura, sua preocupação era não questionar algo que pudesse acionar algum gatilho emocional negativo no rapaz.

Ainda à distância, a conversa continuou. “Falei assim, seja bem-vindo ao mundo das pessoas fortes. As pessoas enxergam que a gente é tão forte que acha que nunca chegaremos ao limite. E você chegou no seu e ninguém percebeu, mas está tudo bem. Você acha que eu também nunca cheguei no meu limite?”, disse ao rapaz.

Marinho conseguiu saber que ele morava com a mãe no Engenho Novo, que tinha um filho de 4 anos de idade, mas não era casado, pagava pensão alimentícia. Ela se apresentou e ele disse o seu nome. E teve uma ideia para chegar mais próximo ao rapaz. “Foi quando falei pra ele: ‘está todo mundo assustado, e a gente está falando de um assunto muito pessoal. Você se incomoda se eu pular a muretinha aqui, só para a gente conversar melhor e não ficar aqui gritando?’. Ele falou, ‘tudo bem, mas você não vem porque eu vou pular, eu não quero que você veja essa cena.’ Eu falei, ‘tudo bem, eu vou passar aqui, mas eu vou sentar’.”

Mais tensão a cada minuto

Já havia três viaturas da GCM e por volta de seis guardas assistindo mais de longe à ação de Marinho. “Ele ameaçava pular quando via alguém vindo em sua direção. E eu falava aos meus colegas para esperar, não fazer nada. O assunto em relação a ele já havia praticamente se esgotado, foi quando ele me disse: ‘você sabe o que é o fundo do poço?’”

Foi daí que a GCMF teve outra grande sacada. Ela entendia que precisava impactá-lo com uma experiência pessoal, e pediu para mostrar fotos em seu celular, de uma época muito dura – de 2013, quando Marinho teve que passar por uma cirurgia por conta de um câncer de mama. As fotos eram de uma mama desfigurada. “Eu falei pra ele que ninguém nunca havia visto aquelas fotos. Eu as tenho porque representam uma briga que travei com a minha vida. Eu falei pra ele, ‘eu vou te mostrar umas fotos, você deixa eu me aproximar pra gente falar sobre o fundo do poço?’.

Já com o celular da GCM nas mãos, ele ia passando as fotos, mas num determinado momento a tela apagou. Ela chegou perto para religar o aparelho, examinou a situação delicada da posição do rapaz, e, aproveitando a proximidade, colocou um braço na cintura dele, e com a mão do outro braço conseguiu alcançar o seu cinto, por trás, nas costas do rapaz. “Ele olhou pra mim e falou assim: ‘não faz isso’. E eu respondi, ‘não faz isso você comigo’. Puxei, e meus colegas conseguiram pegá-lo e trazê-lo para longe do beiral do viaduto, pro chão. Aí ele desabou, chorou e chorou, e dizia pra mim, ‘não me deixa aqui, me tira daqui’. E eu tentava acalmá-lo”, relembra Marinho.

O rapaz acabou encaminhado ao Pronto-Socorro Central de Barueri, e a pedido dele, Marinho o acompanhou. Ela já havia atendido ao celular dele, uma ligação de sua irmã, que ao saber do ocorrido também foi ao PS Central. Ocorrência encerrada.

25 anos de carreira

Mas, para Marinho, não foi apenas “uma ocorrência”. Garante que é outra pessoa depois do episódio, que se juntou a outro de dois anos atrás, quando salvou, em plena estrada dos Romeiros, um bebê que estava afogado após a amamentação. “Quando se pensa em polícia, se pensa em porrada, pau e bomba. Muitas vezes a gente tem que ser, porque eu sou mulher, eu tenho 1,65m só, eu falo fino, mas estou há 25 anos nas ruas com a Guarda Municipal de Barueri”, aponta.

E completa dizendo que ama sua profissão e que procura exercê-la sempre com excelência. “Sou pedagoga de formação. Eu tenho uma pós-graduação em Pedagogia do Comportamento. Tenho um MBA em Gestão Estratégica de Pessoas. Sou mãe de uma menina de 21 anos. Fui criada por uma paraibana chucra que fez com que eu tivesse que me defender desde cedo. Eu adoro lidar com as pessoas nas ruas. Todos nós somos humanos, é isso o que deve importar”, finaliza Erinalda Elias Marinho, 49 anos de idade – mais conhecida entre seus colegas como a GCMF Marinho, muito profissional e muito humana.

Setembro Amarelo

Por meio de campanhas e ações especiais, o mês serve como reforço à importância de tratar o tema sem tabus, colaborando inclusive na identificação de sinais que possam indicar a intenção de suicídio em uma pessoa, como forma de prevenção.

A campanha, cujo lema é “Se precisar, peça ajuda”, é tocada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Saiba mais em www.setembroamarelo.com.

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