Vendedor da cooperativa acusada de fraudar venda de alimentos diz que prefeito receberia 30% do valor de contrato. Gil nega denúncia
Um dos investigados por fraudes em licitações de merenda escolar, preso na terça-feira (19/1), em Bebedouro, afirmou em seu depoimento à polícia que um contrato feito entre a prefeitura de Barueri e a Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), incluiu a exigência de propina pelo prefeito Gil Arantes. Adriano Gilberto Mauro, que trabalhava como vendedor da coopertiva, declarou que foi fechado um acordo pelo então presidente da Coaf, Cássio Chebabi, para que o prefeito recebesse 30% do valor total.
A prisão de Adriano Mauro faz parte da operação Alba Branca, realizada em conjunto pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público (MP) e a Polícia Civil, e deflagrada na terça-feira. Os investigadores concluíram que a Coaf pagou propinas para funcionários de prefeituras para sair vencedora em licitações de compra de alimentos. A investigação do caso começou há seis meses, depois que um ex-funcionário da cooperativa procurou a polícia para denunciar o esquema.
De acordo com o delegado de Bebedouro, José Eduardo de Vasconcelos, responsável pelo trabalho policial, os vendedores da Coaf assediavam servidores de prefeituras, oferecendo vantagens para conseguir sucesso nas licitações. “O serviço era prestado, mas com um sobrepreço para que houvesse vantagem financeira para o funcionário da prefeitura, para o próprio vendedor, para a Coaf e também para o agente político que fez a intermediação”, explicou Vasconcelos.
Reunião em Barueri
Em seu depoimento realizado logo após a prisão, Adriano Mauro disse que a cooperativa não conseguiu cumprir o acordo e que Gil Arantes não recebeu o dinheiro combinado. “Tanto que ele fechou as portas da prefeitura para a Coaf”, afirmou. Seguindo em seu relato aos policiais, o vendedor explicou: “Então, outro funcionário da Coaf, César Augusto Bertholino, o filho do ex-deputado estadual e federal Leonel Julio, Marcelo Ferreira Julio, e uma pessoa identificada como Moacir se reuniram no escritório de Moacir, em Barueri”. Teria tomado parte desse encontro a secretária de Finanças de Barueri, Geanete Resende da Silva. “Ficou combinado nessa reunião que a Coaf honraria todas as comissões combinadas com a prefeitura caso as portas dela voltassem a se abrir para a Coaf; ficou combinado que o novo edital sairia no inicio de 2016, mas ainda não saiu”, contou Adriano.
A Operação Alba Branca prendeu seis pessoas na terça-feira: três dirigentes da cooperativa, o vendedor Adriano Mauro e mais dois funcionários. Naquele mesmo dia, 24 mandados de busca e apreensão de documentos foram cumpridos em prefeituras de 17 cidades. Um grupo da operação, composto por delegado e promotores, esteve em Barueri. Aqui, concentrou-se na Secretaria de Suprimentos, responsável pelas compras da administração municipal.
Licitação de 2013
Procurada pelo Barueri na Rede para falar sobre a visita dos agentes da polícia e do Gaeco, a prefeitura respondeu em nota que “A Prefeitura de Barueri, por meio da Secretaria de Suprimentos, apenas colaborou com o MP e forneceu a documentação solicitada pelo órgão, referente a um processo licitatório de 2013, que transcorreu dentro dos trâmites legais e que teve a cooperativa investigada como vencedora”.
Os agentes levaram cópia do contrato assinado em março de 2014 entre a Coaf e a prefeitura para fornecimento de suco de laranja por quatro meses, referente a licitação realizada em 2013. O valor total foi de R$ 747 mil.
No dia seguinte, o secretário estadual da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, disse que não estava descartada a participação de prefeitos e outros políticos no esquema de corrupção.
Gil nega acusação
O Barueri na Rede tentou falar com o prefeito Gil Arantes sobre as acusações, mas não conseguiu. O jornal O Estado de S. Paulo disse que Gil negou conhecer tanto Cássio Chebabi quanto Emerson Girardi, ex-presidente e vendedor da Coaf, respectivamente. Também negou que a secretária Geanete Resende da Silva tenha participado do encontro citado pelo investigado.
De acordo com o prefeito, a Coaf venceu uma única licitação em Barueri, exatamente a de 2013. Ainda segundo ele, a prefeitura fez duas outras licitações depois daquela, e a Coaf não se apresentou para a disputa. Disse ainda que há apenas uma consulta de preço no processo licitatório de 2015 por parte da cooperativa.
O site de notícias G1 também publicou que o prefeito negou conhecer pessoas ligadas à cooperativa. “Eu não costumo receber nenhum fornecedor da prefeitura. É uma grande mentira, eu não conheço nenhum proprietário ou diretor dessa cooperativa, como de nenhuma outra”, afirmou. Gil disse ainda que o processo já está na mão da polícia, referindo-se ao contrato apreendido pelos agentes da Alba Branca na terça-feira, e que o documento vai mostrar que não houve nenhum superfaturamento.
Outros políticos
A investigação cita ainda como supostos envolvidos o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Fernando Capez (PSDB), o presidente estadual do PMDB, deputado federal Baleia Rossi, e o ex-chefe de gabinete da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin (PSDB), Luiz Roberto dos Santos, o ‘Moita’, afastado do cargo um dia antes do estouro da operação pela Polícia Civil de Bebedouro.
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