Leandro Kdeira mostra como certos conceitos equivocados são adquiridos ao longo da vida pois, nas crianças, eles não estão presentes
Certa vez, eu tinha acabado de descer do ônibus no Terminal Rodoviário de Barueri, quando em dado momento algo aconteceu. Não, não vou falar sobre a falta de acessibilidade ou manutenção das plataformas no transporte e falta de capacitação de alguns profissionais dessas empresas. Não vou falar também a respeito das calçadas, estabelecimentos sem acesso e nem das vagas de estacionamentos ocupadas por “só um minutinho” por quem não tem necessidade de usá-las – falarei sobre esses temas em outra oportunidade.
O acontecimento foi que, de longe, ouço uma criança acompanhada por um adulto, dizer:
– Criança: Olha, ele tem rodinhas – se referindo a mim.
Eis que o adulto, num ápice da falta de “sabedoria”, solta a seguinte pérola:
– Adulto: Ele está dodói.
Não tive tempo de intervir diante daquele comentário, pois o homem tomou outro sentido. Mas gostaria de ter dito, não para ele, mas sim para a criança, algo que a minha sobrinha Ana Julia, de cinco anos, disse um dia desses em um diálogo espontâneo dela com o irmão Gabriel, de três anos.
– Ana Júlia: O tio Leandro é diferente.
– Gabriel: Por quê?
– Ana Julia: Porque têm as pessoas que andam e as que não andam, têm as pessoas baixas e altas. Todo mundo é diferente.
Crianças e seus singelos ensinamentos. Pena que esses valores transmitidos por esses pequeninos, são destruídos em uma grande parte por adultos adeptos da “cultura da generalização”, como no caso do adulto da história, pois na cabeça dele, toda pessoa com deficiência é doente, quando, na verdade, muitas deficiências são causadas por doenças – o que não quer dizer que ela esteja doente – assim como por acidentes automobilísticos, guerras, violência urbana, ou até mesmo por um simples mergulho dado de mal jeito na piscina.
Entendam que se a pessoa é cadeirante, ou tem qualquer outro tipo de deficiência, seja física, intelectual, auditiva ou visual, isso não é sinônimo que ela seja doente, encare como uma condição normal como outra qualquer, é como ser negro, chinês, goiano, menos corinthiano. Desculpem, não resisti (risos).
Sejamos como as criancinhas…