sexta-feira, março 29, 2024
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Em seu primeiro CD solo, Sasquat mostra que o rap venceu

por: Redação

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Rapper e produtor cultural barueriense refaz sua trajetória de moleque problema a arte-educador 

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O encontro de Wagner Sasquat com o rap foi parte de uma punição. Adolescente problema, aconteceu de ele ter de cumprir um período de liberdade assistida. Foi quando o psicólogo que o acompanhava lhe propôs um acordo: pagar parte das horas da sanção na oficina de rap da prefeitura. Hoje, ao lançar A Essência Vive, seu primeiro CD solo, o rapper, arte-educador e produtor cultural barueriense, fala com orgulho dos jovens que o projeto pedagógico onde trabalha consegue conduzir para o caminho das rimas, como aconteceu com ele.

Foi uma surpresa para os irmãos ver aquele menino sossegado, nascido e criado no Jardim Silveira, virar um “tranqueira” na adolescência. Ele não se adaptava na escola, não via sentido naquilo. Aos 16 anos, vivia com um grupo aprontando pela cidade, até ser pego praticando vandalismo contra o patrimônio público. Mão na cabeça e delegacia.

“Quando foi me buscar, meu pai não queria nem olhar na minha cara, não era para aquilo que ele tinha se esforçado tanto para me criar”, lembra ele. “Foi ali que comecei a pensar que eu estava num caminho que ia me levar para o pior.”

Quando chegou à oficina de rap, Sasquat achou que era só um lazer, mas logo descobriu que não seria assim. Joul, o orientador, viu talento nele. E dá-lhe cobrança, crítica. Fazer rima exige leitura, vocabulário, informação. Em casa, a mãe não aprovava, o pai ficara tranquilo só de saber que ele não estava na rua. Até que em poucos meses veio o primeiro dinheirinho de um cachê e a primeira conta paga para ajudar a família. A vida começou a mudar.

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Show na Praça da Moça, em Diadema, 2016

As coisas andaram rápido. Antes dos 20 anos ele próprio já administrava oficinas. Sob direção de Marcello Airoldi, montou com amigos um espetáculo adaptando poemas de Vinicius de Moraes para o rap. Encheram o Teatro Municipal de Barueri várias vezes.

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Na capa do CD, Sasquat em dois tempos

Até que em 2002 surgiu a grande ideia. O professor Joul viu que aquela molecada era capaz de muito mais e criou o projeto Matéria Rima, que estimula jovens estudantes a criar rimas em cima das matérias em que vão mal na escola. “Para se destacar, eles têm que estudar os temas e criar”, explica Sasquat.

O grupo abraçou a proposta, o projeto decolou e acabou sendo adotado pela prefeitura de Diadema para toda a rede municipal de ensino. Em 2015, ganhou o prêmio Itaú Unicef de melhor prática educacional fora da escola.

Ouça uma das faixas do CD do Sasquat

“O rap estimula o estudo, para um MC disputar um desafio de rimas tem que ter conhecimento, informação”, explica. “Isso cria um público crítico, que pesquisa o tempo todo. Se você disser uma bobagem, a molecada percebe e te cobra.” Ele fala da própria experiência, de mergulhar nos livros logo que começou a rimar. Atualmente, seus autores preferidos são o antropólogo Darcy Ribeiro, o filósofo Mário Sérgio Cortella e o historiador Leandro Karnal, todos educadores.

Aos 30 anos, Sasquat nem de longe lembra o moleque problemático. Passa tranquilidade, bom humor, sempre com uma reflexão profunda. O rap é crítica, contestação, e sua criação provoca o modelo opressor, mas também questiona o indivíduo. “Não adianta pensar em mudar o sistema, se não buscar uma mudança interior”, diz. “Reclamar da política e da corrupção, mas no dia a dia fazer as mesmas coisas, não vai levar a lugar nenhum.”

Essa visão está no CD A Essência Viva, lançado nesta segunda-feira, 20/2. Ali, ele traça, faixa por faixa, sua trajetória pessoal e desenha sua visão de mundo. No disco, ele canta com a filha Vitória, de cinco anos, uma canção que fez quando ela ainda estava na barriga da mãe, durante uma gestação complicada.

Tem também uma faixa dedicada ao amigo Conrado, que morreu muito jovem num acidente de carro. Para gravar esta música, ele chamou o cantor e apresentador Tiago Nascimento. “Foi um momento muito difícil, de muita emoção, nós três éramos muito amigos, fomos criados juntos”, recorda ele.

O CD A Essencia Vive já está no catálogo das maiores plataformas digitais e em breve estará no Youtube e tocando nas rádios.

 

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