sábado, abril 20, 2024
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A política e a vida nas cidades

por: Redação

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No seu texto de estréia, Siméia Mello chama a nós, cidadãos, para debater a nossa cidade e nossa cidadania

Apaixonada por livros desde muito nova, aspira a escrita como forma de emancipação. Seu amor pelos livros a levou diretamente para a área da educação e em direção aos livros. Hoje, é revisora e professora e, sempre que possível, adora discutir sobre a vida e suas complexidades. Negra e mulher, há um bom tempo vem discutindo as inúmeras formas de opressão, buscando sempre modos de superação e emancipação. Tem uma relação muito próxima com a cidade de Barueri onde cresceu e partilhou infância e boa parte de sua vida adulta.
Apaixonada por livros desde muito nova, aspira a escrita como forma de emancipação. Seu amor pelos livros a levou diretamente para a área da educação e em direção aos livros. Hoje, é revisora e professora e, sempre que possível, adora discutir sobre a vida e suas complexidades. Negra e mulher, há um bom tempo vem discutindo as inúmeras formas de opressão, buscando sempre modos de superação e emancipação. Tem uma relação muito próxima com a cidade de Barueri onde cresceu e partilhou infância e boa parte de sua vida adulta.

Pra iniciarmos essa conversa, é preciso pensarmos o quão seres políticos nós somos. Afinal, por meio do Estado, a vida entra na política, já que o seu papel é regular vida – a minha, a sua, enfim, a de todos. Desse modo, o Estado e suas decisões nos afetam diretamente, pois nele, no Estado, está o poder de decisão sobre nós.

Bom, a partir daí, não dá pra pensar em nós sem pensarmos em cidadãos, com direitos e deveres, que participam de uma determinada sociedade regulada por um Estado, certo?

Ok! Trazendo para o nosso contexto brasileiro, vale pensar em sua composição – federal, estadual e municipal –, este último diretamente atrelado ao nosso cotidiano, já que são as prefeituras que regulam a vida das cidades da qual fazemos parte, onde vivemos, moramos, trabalhamos, ou não, saímos, temos amigos, nos relacionamos. Portanto, tudo que for decidido no campo municipal interferirá diretamente no nosso dia a dia.

Não que as decisões tomadas lá em Brasília não alterem. Afinal, com os últimos acontecimentos, mais e mais percebemos o quanto nossas vidas e nosso cotidiano, como trabalho, escola, saúde, são alterados pelo que nossos rapazes vestidos de ternos – em sua maioria – decidem.

Mas o municipal é algo muito mais tangível, está ali! Conhecemos de perto! Principalmente em período eleitoral quando eles passeiam entre nós, cheios de sorrisos, promessas, compromissos e abraços.

E daí vem a minha questão? Se somos seres políticos, se tudo que nossos amigos, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, decidem altera e interfere nas nossas vidas, por que tratamos a política com tanto descaso?

Então, na conversinha de boteco sempre aparece aquele mais exaltado nos explicando como a turma de terno e gravata é a escória, uns salafrários que só se preocupam com o poder, com dinheiro e com a chance de ter vantagem sobre nós.

Outros, mais cínicos, explicam que realmente se trata de uma corja corrupta, formada por espertalhões voltados para os seus próprios interesses, mas que se ele, ele mesmo – o cínico ao qual me refiro – conseguisse a tão famosa oportunidade, faria o mesmo. Talvez, daí, possamos entender o número cada vez maior de candidatos a vereadores.

Ou aqueles que nos ensinam que política não é coisa de gente “correta”, de gente decente. É feita e organizada por um pessoal, no mínimo, de índole duvidosa. Logo, qualquer tentativa de conhecermos ou discutirmos política, ou mesmo de participarmos mais diretamente do que se passa nessas salas com ar condicionado e muitos termos como “vossa excelência”, é a prova cabal do quanto somos ignorantes ou mal intencionados. Cá estamos nós defendendo corruptos ou procurando obter vantagens. 

Entretanto, são eles ainda que decidem sobre nós; e toda a nossa apatia ou desinteresse sobre o assunto só os auxiliam ainda mais, já que, gostando ou não das decisões tomadas por eles, elas – as decisões – nos afetam diretamente.

Principalmente quando levamos em conta a constituição do Brasil enquanto Estado, quando percebermos como ela vem sendo forjada sobre os mais fracos; como esses ditos “poderosos”, que legislam sobre nós, estão sempre criando mecanismos que mais nos tiram direitos do que nos dão; que, ao legislarem, o fazem em causa própria. E ainda nos fazem acreditar, um pouco por não entendermos muito bem os mecanismos bastante complexos, propositadamente complexos, que tudo isso é para o bem comum, ou para o bem dos nossos.

Daí, ou não discutimos o assunto, ou discutimos aquilo que só nos interessa sem pensarmos que talvez aquela cesta básica que recebemos é só um jeitinho maroto de nos esconder a situação deficitária de nossas escolas e hospitais; que talvez aquele agrado, como um material de construção liberado para o nosso primo seja mais uma forma de engodo para nos esconder o enriquecimento ilícito. Talvez esse desinteresse pela política, pela nossa cidade e pelos rumos da nossa sociedade, seja mais um artifício, articulado por eles, para que nos centremos em nossas vidas desatreladas completamente do político, permitindo assim o exercício do poder público sem o público, a gerência do público como se fosse privado. Talvez a fala empolada e cheia de exageros seja só um discurso vazio de quem só quer se manter no poder. Ou na tentativa de criar herdeiros políticos esteja somente o ego e o interesse em se perpetuar no poder nem que seja pelo gene.

Portanto, nesse momento de eleições municipais, é preciso que tenhamos compreensão do que está em jogo. Está em jogo as nossas vidas, a nossa educação, a nossa saúde, o nosso trabalho, o transporte que utilizamos diariamente, e, principalmente, algo que às vezes por conta de nossas vidas corridas e atarefadas nos esquecemos, que é o bem comum.

Desse modo, chamo a todos para discutirmos uma cidade que seja menos desigual, menos limitadora, menos corrupta, menos aliciadora, menos indulgente com esse senhorio, em sua maioria, malandro, autoritário e corrupto.

Que consigamos pensar e articular novas possibilidades de vivermos em conjunto, de vivermos o político, de vivermos em sociedade. Que os nossos interesses ou a falta deles não seja o motivo para sermos governados e dirigidos por calhordas. Que pensemos cidades pra além dos nossos próprios umbigos, ou pra além das conversas de botequim ou dos discursos cínicos de quem não nos oferece alternativas! Porque cidade e sociedade é partilhamento, é compartilhamento, é o político vivo e pungente!

Afinal, as cidades somos nós!

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